Jaime Serra pede expulsões no PCP

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A exigência de expulsões no PCP é feita sem pudores nem meias tintas, dando início à guerra contra a defesa de alterações às regras orgânicas e programáticas do PCP na rubrica "Tribuna da Conferência", que ontem começou a ser editada no semanário "Avante!", órgão oficial do PCP, e que decorrerá até à realização da conferência nacional marcada para dia 22 de Junho.

Logo no primeiro dia, dá a cara no combate contra a renovação o histórico dirigente do PCP Jaime Serra, um dos mais destacados comunistas na clandestinidade, que fugiu de Peniche com Álvaro Cunhal em Janeiro de 1960, ascendendo então à direcção executiva, com Cunhal. Militante desde 1936, nos anos 70, Serra liderou o braço armado do PCP, a Acção Revolucionária Armada. Já depois do 25 de Abril, foi o responsável máximo pelas questões de defesa no PCP, tendo tido um papel determinante no 25 de Novembro.

Curiosamente, o texto de Jaime Serra - que acusa os renovadores de "revisionistas" e de promoverem "iniciativas de carácter cisionista" - tem direito a uma breve "nota prévia" de pendor biográfico, para que se saiba que aquele Jaime Serra é mesmo o Jaime Serra, com toda a sua legitimidade histórica. Uma nota que significativamente termina dizendo: "Esta pequena nota biográfica destina-se apenas a comprovar que o autor sabe do que fala."

Serra começa por descrever a sua versão da fundação do PCP, para terminar a afirmar: "Não se pode permitir que, mesmo formalmente, se considere membro do partido quem, pela sua acção sistemática, se colocou claramente à margem dele e contra ele."

Antes de clamar as expulsões, Jaime Serra trata de legitimar esta posição numa convicta defesa do cariz marxista-leninista do PCP e num violento ataque aos renovadores.

Primeiro, lembra que o PCP passou "por diversas dificuldades antes de fixar claramente, no início da década de 40, o quadro da sua identidade de partido revolucionário de classe operária e de todos os trabalhadores, baseado nos princípios ideológicos do marxismo-leninismo."

E passando para a actualidade, afirma que, "na situação política actual, resultante da instalação no poder do Governo mais à direita do pós-25 de Abril, que motivou a convocação da conferência nacional (...) a existência e acção política do PCP como a única força política verdadeiramente revolucionária torna-se ainda mais necessária". Daí que Serra defenda que "a coesão, a unidade de pensamento e acção impõem-se mais do que nunca a todos os militantes, na base do respeito pelos princípios e regras estabelecidos".

Já interpelando os que defendem mudanças, Jaime Serra questiona: "Porquê tão furiosa campanha contra tais regras e princípios, desencadeadas e alimentadas por uma plêiade de novos e 'iluminados' revisionistas, com clara marca de classe (...) Porquê tão grande estímulo e apoio à sua acção que, de forma orquestrada, recebem dos principais órgãos de comunicação social burguesa, quando todos sabemos (eles não ignoram) que o PCP é a única força política cuja existência e acção política as classes dominantes verdadeiramente temem e que, por esse facto, quer antes pela violência, quer agora por formas mais refinadas, sempre pretenderam destruir?"

Por fim, antes de pedir as expulsões, Jaime Serra acusa ainda: "Nesta pretensão, os novos revisionistas, alguns já a soldo, colaboram vergonhosamente utilizando a variada comunicação social burguesa posta aos seu dispor e promovendo iniciativas de carácter cisionista." E conclui: "É um processo de degenerescência política e ideológica, que, não sendo um fenómeno novo na longa história do nosso partido assume, na actual conjuntura, aspectos preocupantes e enganadores, dados os meios postos ao seu dispor e os falsos argumentos que utilizam para enganar incautos."

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