Marcelino Vespeira morre aos 77 anos

O pintor Marcelino Vespeira morreu ontem em Lisboa, vítima de doença prolongada. Marcelino Vespeira é um dos grandes pintores portugueses contemporâneos, notado pela sua versatilidade.

Marcelino nasceu em 1925 no Samouco, Alcochete, e fez o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio, na sequência do qual frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa.

O seu percurso artístico parou em várias correntes estéticas. Foi integrado na corrente neo-realista da pintura portuguesa e tornou-se notado com a participação na primeira Exposição de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes (1946), refere a Lusa.

O quadro a óleo "Apertado pela Fome" (1945) é um dos mais conhecidos do autor, que também esgrimiu "Manifestação Proletária" e "A Ronda". Dentro desta corrente estética, Vespeira destacou-se ainda como teórico e doutrinador escrevendo na página Arte do jornal portuense "A Tarde". Nessa mesma página publicou uma Carta Aberta aos Pintores Portugueses, em que atacava o formalismo e defendia uma "arte útil" à sociedade, ou seja, uma arte de intervenção.

Mas, em 1947, na Segunda Exposição de Artes Plásticas, o pintor apresenta já alguns desvios relativamente ao ideário neo-realista e, no ano seguinte, opera a ruptura total com esta corrente, aderindo ao surrealismo e recusando-se a participar na terceira Exposição Geral.

Na fase surrealista colaborou na execução de Cadavre Exquis (1948) e participou na primeira exposição do Grupo Surrealista de Lisboa (1949).

Na década de cinquenta passou pelo abstraccionismo geométrico, tendo participado no primeiro Salão de Arte Abstracta. Esta experiência terá sido negativa, pois muitas das obras desta fase foram destruídas pelo pintor.

Sucede-se, segundo um extracto do historiador de arte José Augusto França (1973), uma fase de "experiências várias que se detiveram na exploração de pequenas «formas-batôn, com as quais o pintor criou um alfabeto gráfico pessoal que pôde finalmente animar em ritmos de excitação musical, inspirados por danças negras vistas em Zavala (Moçambique) e pelo Jazz .Esse grafismo assumiu a seguir uma responsabilidade espacial até à criação de um «espaço elástico», numa espécie de pulsação orgânica, entre 1959 e 60. Durante os anos sessenta, o pintor deteve-se na exploração desta pesquisa e, ao fim deles, mergulhou de novo num universo onírico de formas e imagens em que se recordam propostas surrealistas de cerca de 1950". Desta última fase destaca-se o quadro da Brasileira do Chiado (1971).

O corpo do pintor, nascido em 1925, encontra-se em câmara ardente no Centro Paroquial de Santa Joana Princesa. O funeral realiza-se às 10h00 de hoje, no cemitério do Samouco (Alcochete), sua terra natal.

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