Práticas dos talhantes podem ter originado agregado de casos de Creutzfeldt-Jakob

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Os hábitos nos talhos podem ter favorecido a contaminação DR

Os talhantes, manuseando material encefálico de bovinos contaminados com a doença das vacas loucas, podem ter sido os responsáveis pelo agregado da nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob no Reino Unido, avança a BBC Online

Há muito esperado, a Autoridade Sanitária de Leicestershire revelou hoje o estudo em que avança algumas teorias sobre as causas da morte de cinco pessoas na localidade de Queniborough, vítimas da forma humana da doença das vacas loucas.A equipa de peritos acredita que o agregado de Queniborough pode ter ficado a dever-se ao manuseamento e corte da carne para consumo com facas de talhante que antes teriam estado em contacto com tecidos encefálicos animais contaminados. Os peritos acreditam que o período crítico desta prática ocorreu entre 1980 e 1991. Já no início deste mês a comissão de peritos governamentais tinha adiantado que a hipótese avançada seria "óbvia".
Chegou-se à conclusão que todas as vítimas de Queniborough comeram carne de vaca apesar de não se abstecerem no mesmo talho e de uma delas se ter, posteriormente, tornado vegetariana. Presume-se, porém, que os talhantes se tenham abastecido nos mesmos matadouros.
Philip Monk, da Autoridade Sanitária de Leicestershire, afirmou, em conferência de imprensa, que é "plausível e possível" que vacas infectadas com encefalopatia espongiforme bovina (BSE) tenham sido mortas em matadouros daquela área durante a década de 1980. O responsável acrescentou ainda que o cenário plausível era que as vítimas frequantassem talhos onde era prática comum abrirem-se as cabeças das vacas a fim de lhes ser retirada a mioleira. Nesse processo, visto que o cérebro está protegido por uma membrana, esta rompe-se e o material encefálico tem tendência a "colar-se" às coisas, aumentando o risco de contaminação de BSE, nomeadamente se entrar em contacto directo com outros pedaços de carne destinadas ao consumo humano.
Os peritos não encontraram qualquer outro tipo de ligação entre as cinco vítimas da doença de Creutzfeldt-Jakob. Não há registos de que tenham sido sujeitas a intervenções cirúrgicas similares ou que tenham partilhado o mesmo dentista. Também não há qualquer tipo de ligação entre os trabalhos que desempenhavam nem quanto a possível contaminação por alimentos para crianças.
Richard Lacey, professor da Universidade de Leeds e o microbiologista que primeiro sugeriu a ligação entre a BSE e a nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob, voltou a confirmar que ainda não hé certezas sobre a forma de transmissão da variante humana da doença, assegurando que o estudo da Autoridade Sanitária de Leicestershire é "pura especulação".
O agregado de casos foi detectado em 1998 depois de três pessoas morrerem num espaço de doze semanas. Glen Day, de 35 anos, de Queniborough e Pamela Beyless, 24, da localidade vizinha de Glenfield, morreram em Outubro. Stacey Robinson, 19, Queniborough, tinha morrido alguns meses antes, em Agosto. Em Maio, um rapaz de 19 anos também tinha morrido e na mesma altura as autoridades afirmaram que era "altamente provável" que um jovem de 24 anos tivesse contraído a doença, no mesmo condado. Uma quinta pessoa, um trabalhador de uma quinta, morreu em Setembro.

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