"Recandidate-se a um novo mandato", pedem empresários a Marcelo

Presidente da República respondeu que "tudo tem o seu tempo e, no seu tempo, [isso] será ponderado e decidido".

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Presidente esteve no 184º aniversário da CCIP LUSA/TIAGO PETINGA

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone, pediu esta segunda-feira ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, "em nome dos empresários portugueses", que se recandidate em 2021, "pela estabilidade e pelo progresso".

Este pedido foi feito durante um almoço na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, em Lisboa, para assinalar o 184.º aniversário da fundação da instituição, e suscitou um longo aplauso por parte da assistência - onde se encontrava também o ex-ministro e antigo presidente do CDS-PP Paulo Portas.

"Senhor Presidente, Portugal precisa de estabilidade e de união para conseguir trabalhar para o seu desenvolvimento. Deixo-lhe um pedido em nome dos empresários portugueses: Pela estabilidade e pelo progresso, recandidate-se a um novo mandato. Portugal precisa de si", declarou Bruno Bobone.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, discursou a seguir e respondeu ao pedido do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa no final da sua intervenção, dizendo-lhe que "tudo tem o seu tempo e, no seu tempo, será ponderado e decidido".

Marcelo Rebelo de Sousa tem remetido para o Verão de 2020 a sua decisão sobre uma eventual candidatura a um segundo mandato nas presidenciais de 2021.

Importância nuclear da aliança EUA/UE

No mesmo evento, o Presidente da República defendeu que o comércio aberto e a aliança entre os Estados Unidos e a União Europeia como um todo têm "uma importância nuclear", expressando preocupação com a conjuntura global e europeia.

Marcelo Rebelo de Sousa voltou a criticar "o regresso do proteccionismo comercial" e deixou também uma mensagem de apelo ao investimento externo em Portugal por parte dos seus aliados.

"O conjunturalismo eleitoral, o imediato e o subsequente, não deve comprometer visões de médio e longo prazo, para as quais o comércio aberto e a aliança entre os Estados Unidos e a União Europeia - digo bem, a União Europeia, e não fragmentos dela - têm uma importância nuclear. Sobretudo para quem diga querer evitar excessivos avanços asiáticos no Ocidente e manter viva e operacional a Aliança Atlântica", afirmou.

No seu entender, "os sinais dos últimos tempos são preocupantes e só admira como não tiveram sinais mais graves".

Depois, quanto ao investimento externo em Portugal, o chefe de Estado argumentou: "A melhor maneira que têm os nossos amigos e aliados de garantirem que o investimento que nos chega é o que apreciam é eles próprios investirem. De nada vale queixarem-se de vindas que não apreciam quando, perante oportunidades e necessidades instantes, criticam, temem, apostrofam, mas não avançam, primam pela ausência".

"Como todo o meridiano jurista sabe, em direito, como na política ou na economia, os ausentes nunca têm razão", observou.

Sem nomear nenhum país em concreto, Marcelo Rebelo de Sousa referiu: "O senhor primeiro-ministro e o Governo não se têm poupado a esforços para sensibilizar os nossos amigos e aliados para o seu investimento em Portugal".

Sobre a situação da União Europeia, o Presidente da República falou em tom grave, considerando que "seria um erro de efeitos irreversíveis" remeter decisões para depois das eleições para o Parlamento Europeu de Maio e da formação da nova Comissão Europeia.

Por outro lado, "decidir timidamente e em clima de falta de coesão e unidade é dar passos largos para a descredibilização europeia", disse.

"Já basta a inacção de tantos, tempo demais, e a sobranceria de outros, para os quais os princípios valem o que valerem os seus próprios egoísmos. E, sobretudo, só uma Europa que saia bem do desafio imediato poderá assegurar crescimento e emprego, mesmo se moderados", acrescentou.

O chefe de Estado apontou "as clivagens entre Estados-membros, os tropismos ditos populistas ou quase e as divisões ou debilidades em economias essenciais", concluindo: "Há sérios motivos de preocupação também nesta frente".

No plano nacional, elogiou "a fibra e a força dos empresários, dos empreendedores e dos gestores portugueses", mas avisou que há que estar atento às "variáveis externas" e ter em conta as "dificuldades estruturais enfrentadas por empresários e pelo povo".

Portugal é uma "sociedade que, à partida, não é desafogada e tem dívidas pública e externa de uma dimensão assinalável em relação à riqueza produzida - o que nunca nos deve deixar de preocupar", advertiu.

Segundo o Presidente da República, a resposta deve ser apostar em "maior produtividade, melhor gestão e, sobretudo, mais investimento, potenciador de mais e melhor exportação".

"Internamente, o reforço da aposta nas exportações, seu incentivo e diversificação é caminho inquestionável. Aberto no passado, a afirmar-se no presente e a acelerar no futuro. O que houver a fazer em rumos, estruturas e pessoas, que seja feito. O mesmo se diga no tocante ao investimento interno e externo", advogou.

Ainda em relação ao quadro internacional, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a expectativa de que este tempo "de novos proteccionismos" seja "transitório" e de que "o aparente desanuviamento com a cimeira de Singapura e o bom senso no Próximo e Médio Oriente prevaleça sobre considerações eleitorais".

"Seria possível e benéfico para todos, a ninguém interessa o crescendo mundial da tensão e da conflitualidade mundial", sustentou.

Sobre o espaço lusófono, declarou: "Espero sinceramente para breve visíveis perspectivas positivas, potenciáveis já a partir da cimeira do Sal e com expressão em passos favoráveis em irmãos e parceiros agora mais próximos".

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