Mau estado do equipamento militar alemão põe em causa missão na NATO

Faltam carros de combate, tanques, óculos de visão nocturna, roupa de Inverno... Mas Berlim garante que terá tudo pronto para assumir o comando da força de reacção rápida da Aliança Atlântica em 2019.

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Fabrizio Bensch/Reuters

Submarinos que não estão em condições de ser usados, falta de horas de voo de pilotos por não haver aviões disponíveis, milhares de vagas  por preencher, falta de equipamento que vai de coletes à prova de bala a tendas: os relatos nos media alemães e o relatório anual do Parlamento sobre as Forças Armadas traçam um quadro problemático sobre o equipamento e capacidade militares da Alemanha e os aliados na NATO temem que o país não esteja pronto para comandar uma força de reacção rápida criada em 2014 para responder a eventuais acções da Rússia no Leste da Europa.

“No final do ano, seis dos seis submarinos não estavam a ser usados”, disse o provedor das Forças Armadas, Hans-Peter Bartels, numa conferência de imprensa na semana passada em Berlim. “Houve alturas em que nenhum dos 14 Airbus A-400M estava em condições de voar.”

Um problema ligado a este é que pilotos de uma série de aviões, desde Eurofighters a Tornados, e ainda de todos os principais tipos de helicópteros, não conseguem ter horas de voo suficientes para completar o seu treino. Segundo o diário conservador Die Welt, em média estes aviões e helicópteros estão disponíveis quatro meses por ano para uso, treino e exercício — os restantes oito meses estão em terra nas oficinas para reparações e actualizações. 

Também na Marinha há problemas: só há nove fragatas disponíveis, quando deveriam ser 15, e mesmo estas nove passam muito tempo nas oficinas porque precisam de manutenção devido à sua idade. 

A Alemanha está cada vez mais a ser chamada a um papel de relevo na defesa, e depois de décadas de timidez militar está presente em 13 missões no estrangeiro, incluindo em países como o Afeganistão ou o Mali. Mas o relatório é claro: o estado das Forças Armadas é “péssimo”.

Um responsável do ministério da Defesa citado sob anonimato pela Reuters disse que no ano passado a utilização de carros de combate e outras armas praticamente duplicou por haver cada vez mais exercícios, mais necessidade de manutenção e mais necessidade de peças que não estão disponíveis.

A nível de pessoal o quadro não é o melhor: há 21 mil postos de oficiais e militares de baixa patente por preencher. Porém, o responsável diz que a situação já esteve pior. “Estamos num ponto de viragem”, garante.

A questão mais urgente é o comando da força de intervenção rápida (Very High Readiness Joint Task Force) da NATO, anunciada em 2014 após a anexação da Crimeia pela Rússia e um aumento das actividades militares de Moscovo. A força é actualmente comandada pela Itália e tem cinco mil militares prontos a entrar em acção em 24 horas. No entanto, segundo a Deutsche Welle, apenas o Reino Unido e a França têm este tipo de capacidade de resposta. 

Um relatório confidencial do Ministério da Defesa da Alemanha citado pelo jornal Die Welt dizia que a brigada de infantaria 9, que está em preparação para esta missão, só tinha disponíveis nove dos 44 carros de combate Leopard previstos, e apenas três dos 14 tanques Marder — para além de não haver óculos de visão nocturna e até roupa de Inverno. Também eram necessárias mais de dez mil tendas, e só há 2500 disponíveis.  

O relatório dizia que a solução para esta “situação escandalosa” era tentar colmatar o “défice de capacidade com material de outras unidades”, mesmo considerando o impacto que isso tenha no conjunto das Forças Armadas.

Um porta-voz do Ministério da Defesa garantiu que as tropas que irão integrar a missão estão na fase de “preparação e mobilização” e que ainda está a ser verificado o equipamento disponível e a serem registadas as necessidades. Os items em falta “estão a ser adquiridos”, disse o porta-voz, Jens Flosdorf ,citado pela emissora Deutsche Welle.

O general Volker Wieker, inspector-geral do Exército, também garantiu que o material necessário estará disponível para a força da NATO em Junho. 

Mas irá levar pelo menos dez anos a reverter os cortes de financiamento que deixam falhas “ainda insatisfatórias” na capacidade militar do país.

O provedor Bartels sublinhou que “como o maior país da União Europeia, o segundo maior na NATO e um país no centro da Europa, a Alemanha tem um mandado claro para a defesa colectiva na Europa”.

A Alemanha está ainda a ser pressionada para aumentar os seus gastos na Defesa para um nível mais próximo dos 2% exigidos aos membros da NATO (mas que poucos cumprem) — este ponto foi mesmo alvo de discórdia da grande coligação entre conservadores e sociais-democratas (que está dependente da aprovação, em referendo, pelos membros do SPD, o resultado deverá ser conhecido a 4 de Março). O SPD, que se opõe ao aumento, concordou com este mas conseguiu que no acordo não fosse referida uma meta concreta. 

Mas há quem avise que mesmo que haja um rápido aumento de orçamento os problemas deverão manter-se. Mark Galeotti, do Centro para a Segurança Europeia, em Praga, explica que “a questão não é só comprar o que falta, é ter as peças sobresselentes, a infraestrutura técnica, meios de transporte, locais de reabastecimento”. “Os carros de combate são surpreendentemente temperamentais.”

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