Apoiantes de Rio desvalorizam carta desafiadora do ex-líder do PSD-Lisboa

Miguel Pinto Luz exige que o líder eleito rejeite o bloco central e que vença as legislativas. Os partidos “não são estruturas unipessoais” e “os líderes não têm o direito nem o dever de se comportarem como se fossem messias”, escreveu.

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Miguel Pinto Luz tem 40 anos NFS - NUNO FERREIRA SANTOS
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Foi líder da distrital de Lisboa com Passos Coelho NFS - NUNO FERREIRA SANTOS
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É o número dois da Câmara de Cascais

O tom geral é de desvalorização. Nas horas posteriores à divulgação de uma carta dura do ex-presidente da distrital do PSD de Lisboa, Miguel Pinto Luz, dirigida a Rui Rio, os apoiantes do líder eleito tentavam minimizar o seu impacto. A tomada de posição – que exige a rejeição ao bloco central e uma vitória do PSD de Rio nas próximas legislativas – é vista como uma marcação de terreno de um futuro candidato à liderança do partido a poucos dias do congresso. Mais um nome, a juntar a outros, como o de Luís Montenegro.

Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, nome lançado por Miguel Relvas como um dos protagonistas do futuro do partido, chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido quando Passos Coelho anunciou que não se recandidatava, mas não avançou. E é essa circunstância que agora é apontada por apoiantes de Rui Rio para justificarem o teor da carta divulgada no domingo à noite, depois de anunciada por Luís Marques Mendes, no seu comentário da SIC. “Se tem assim tantas críticas, porque é que não se candidatou à liderança?”, questiona um colaborador do líder eleito do PSD.

Na carta, Miguel Pinto Luz, que liderou a distrital de Lisboa durante seis anos, considera existirem “omissões” na moção de estratégia global de Rui Rio, sobretudo no que diz respeito às relações com o PS. E nesse sentido, defende que o mandato agora conquistado nas directas “não lhe permite viabilizar” o próximo Orçamento de Estado nem fazer “contactos ou encontros informais discretos” com o PS para reeditar o bloco central ou ainda aproveitar o processo de descentralização para fazer uma “regionalização administrativa e opaca.”

Com quatro páginas, a carta pede que Rui Rio reveja a moção no espírito de que os partidos “não são estruturas unipessoais” e que “os líderes não têm o direito nem o dever de se comportarem como se fossem messias”. Desafiando Rio a dizer o que pensa sobre matérias como a sustentabilidade da Segurança Social, os apoios à actividade cultural ou a esclarecer a sua posição sobre a Europa, Miguel Pinto Luz exige uma vitória nas legislativas – “o dever natural do líder do PSD”.

Com este caderno de encargos, o ex-líder da distrital lisboeta, que se foi distanciando de Passos Coelho, coloca as europeias – já em Maio do próximo ano – como o “primeiro teste” à nova liderança. E, em jeito de provocação, desafia o líder eleito a propor a limitação do número de mandatos dos deputados. 

Do lado de Rui Rio, há quem aponte falta de legitimidade, lembrando que o PSD perdeu Sintra para o PS em 2013 quando Miguel Pinto Luz liderava a distrital de Lisboa e recordando o processo conturbado da candidatura na capital às autárquicas do passado mês de Outubro.

Mas esta tomada de posição pré-congresso, é sobretudo vista como uma marcação de terreno face a uma futura disputa com Luís Montenegro pela liderança do partido – mais até do que um confronto directo com o sucessor de Passos -, já que o ex-líder parlamentar se demarcou da direcção de Rui Rio e prometeu falar no congresso marcado para a próxima semana, depois de ter já exigido a vitória nas próximas eleições legislativas.

Nessa corrida futura pela liderança do PSD, há quem lembre que o "número dois" da Câmara de Cascais precisa de ganhar protagonismo e que esta pode ser uma das formas de o conquistar. Até porque há outras vozes acutilantes que se vão fazer ouvir no congresso como a de Pedro Pinto, actual líder da distrital de Lisboa, que irá defender uma moção que se opõe a entendimentos com o PS no pós-legislativas. Vão também intervir no congresso militantes como Pedro Duarte, ex-líder da JSD, ex-deputado e ex-director de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa para a Presidência da República. Pedro Duarte e o comissário europeu Carlos Moedas - dois nomes que são vistos como futuros protagonistas do PSD - subscreveram uma moção temática. 

Quem é Miguel Pinto Luz?

Durante os 54 dias de vida do segundo Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, Miguel Pinto Luz foi secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações. Foi a sua única experiência governativa. Mas, aos 40 anos, o vice-presidente da Câmara de Cascais já leva mais de uma década de experiência executiva. Começou como vereador de Carlos Carreiras e acumulou o cargo com a liderança do PSD de Lisboa, um dos distritos com maior influência eleitoral, e onde o partido tem mais de 30 mil militantes. Apoiou-se em em Bruno Ventura (o seu vice-presidente) e em Mauro Xavier (então líder da concelhia de Lisboa).

Pinto Luz entrou para a JSD e para o PSD aos 18 anos, ainda antes de se licenciar, pelo Instituto Superior Técnico, em Engenharia Electrotécnica e Computadores, e de concluir o respectivo mestrado. Manteve-se ligado ao meio académico durante vários anos como investigador de mestrado e doutoramento do grupo de sistemas de informação do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC-ID Lisboa) e como docente em diversas cadeiras da licenciatura e pós-graduação no Técnico. Em 2012, concluiu um MBA na AESE Businesss School.

Mais recentemente, uma semana depois das eleições autárquicas de 2017 que deram uma vitória histórica ao PS, e numa altura em que Rui Rio já estava na corrida ao PSD, Miguel Pinto Luz fez saber que não seria candidato, juntando-se, assim, a Paulo Rangel, a Pedro Duarte e a Luís Montenegro. Mas em Janeiro deste ano, Miguel Relvas insistia no seu nome. “Acho que o futuro do PSD, nas gerações mais jovens, passa por um Luís Montenegro, por um Miguel Pinto Luz, que têm combate político, que têm afirmação”, avançava o ex-ministro de Passos em entrevista ao PÚBLICO. com Sónia Sapage

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