Depois da paz, Papa visita a Colômbia para apelar à reconciliação

Francisco chega ao país num momento em que o processo de paz com as FARC começa a dar frutos, sem conseguir unir a dividida sociedade colombiana.

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Esta será a quinta visita de Francisco à América Latina Luis Eduardo Noriega/EPA

O Papa Francisco chega nesta quarta-feira à Colômbia para uma visita de cinco dias que tem como grande objectivo apoiar a reconciliação no país, profundamente marcado por décadas de guerra civil e muito dividido sobre o histórico acordo de paz assinado no ano passado entre o Governo e a guerrilha das FARC.

Será a quinta viagem de Francisco à América Latina, uma deslocação que o Vaticano garante que o Papa estava desejoso de realizar, mas que só queria que se concretizasse quando estivesse já bem encaminhado o processo de paz no país, de que foi um dos grande apoiantes internacionais. “Esse momento chegou agora”, explicou à Reuters o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) concluíram em Agosto a entrega das suas armas e já na semana passada transformaram-se oficialmente em movimento político, um passo fundamental da sua transição para a vida civil após 50 anos de acções armadas e centenas de milhares de mortos.

Mas para uma grande fatia dos colombianos o acordo negociado pelo Presidente Juan Manuel dos Santos foi demasiado benevolente com os antigos guerrilheiros, grande parte dos quais foram amnistiados e receberam apoios para regressarem à vida civil – a primeira versão do texto foi chumbada em referendo por uma vantagem inferior a 1% dos eleitores e o acordo só foi assinado depois de pequenas alterações e sem a realização de uma segunda consulta popular.

A paz será, por isso, o tema de vários encontros que Francisco vai ter nas cinco cidades abrangidas pela visita, incluindo sexta-feira Villavicencio, onde presidirá ao “grande encontro de oração pela reconciliação nacional” e estão previstos testemunhos tanto de vítimas da violência das FARC como antigos membros da guerrilha. “Dar o primeiro passo significa reconhecer o sofrimento dos outros, perdoar aos que nos feriram, reunirmo-nos de novo enquanto colombianos e compreender a dor de todos os que sofreram”, explicou ao jornal católico La Croix o monsenhor Fabio Suescún, responsável do comité responsável pela preparação da viagem.

O Vaticano assegura que o Papa não irá ter qualquer encontro formal com a oposição venezuelana, representantes das FARC ou do Exército de Libertação Nacional (ELN), a outra guerrilha de extrema-esquerda com quem Bogotá iniciou em Fevereiro negociações formais, ainda sem resultados visíveis. No entanto, num desenvolvimento associado à visita, Bogotá e a guerrilha anunciaram na segunda-feira um cessar-fogo temporário – uma trégua que incluirá a proibição de sequestros e ataques a oleodutos (dois dos métodos mais usados pela guerrilha) e irá vigorar entre 1 de Outubro e 12 de Janeiro.

Por razões operacionais o cessar-fogo não estará ainda em vigor durante a visita papal, mas a ELN fez saber que considera a ida de Francisco à Colômbia “uma motivação extra para acelerar as negociações” de paz. 

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