Mesmo após partida do G20, Hamburgo passou mais uma noite difícil

"Turistas de motins" marcaram o fim de um dia de manifestações pacíficas. “Merkel subestimou os protestos", dizem habitantes do bairro que voltou a ser palco de confrontos. Mais de 200 polícias feridos e perto de 300 detidos.

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Durante a noite, novamente em Schanze, foram usados canhões de água para dispersar os manifestantes MASSIMO PERCOSSI
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Uma pessoa é assistida em Schanze durante os protestos de sábado MASSIMO PERCOSSI
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Polícias aguardam junto a uma grade grafitada com a frase "longa vida à anarquia" KAI PFAFFENBACH/Reuters
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O uso de gases para demover os manifestantes foi documentado pelso fotojornalistas FABRIZIO BENSCH/Reuters
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Sábado à tarde, um pouco de normalidade em Schanze FOCKE STRANGMANN
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Um sit-in pacífico durante o dia em Hamburgo HANNIBAL HANSCHKE/Reuters
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Um cartaz e um manifestante mascarado, alusivo à posição isolada dos EUA quanto ao Acordo de Paris sobre o clima FRIEDEMANN VOGEL
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Um manifestante detido nas manifestações diurnas FILIP SINGER
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A marcha Solidarity without borders FILIP SINGER
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Manifestantes dançam frente e junto à polícia de intervenção numa das manifestações de sábado HANNIBAL HANSCHKE/Reuters
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"Acordem-me deste pesadelo", pede-se na manifestação Solidarity without borders LUKAS BARTH
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Uma pausa nas manifestações do dia CARSTEN KOALL
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Um cartaz alusivo a Donald Trump FOCKE STRANGMANN
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A marcha Solidarity without borders RONALD WITTEK
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A marcha Solidarity without borders FOCKE STRANGMANN
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Um cartaz alusivo a Donald Trump FOCKE STRANGMANN
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A marcha Solidarity without borders RONALD WITTEK
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A marcha contra o G20 FABIAN BIMMER/Reuters
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Reuters/AXEL SCHMIDT

A cimeira do G20 já terminou e tal como as negociações entre os líderes das maiores economias do mundo foram “difíceis”, também o clima nas ruas de Hamburgo foi desafiante. Às manifestações pacíficas durante as últimas horas do encontro acabaram por se juntar algumas escaramuças com a polícia durante o dia e em nova noite de tumulto na zona de Schanze. O balanço final ainda não foi avançado, mas até às últimas horas de sábado este era de mais de 200 polícias feridos, 143 presos e 122 detidos.

Só pelas 12h de Lisboa deste domingo é que a polícia de Hamburgo fará o balanço de vários dias de segurança reforçada em Hamburgo, e de dois dias de cimeira bordejados por manifestações pacíficas de dezenas de milhares de pessoas, mas também de protestos violentos, pilhagens, vandalismo e incêndios por algumas centenas. Sábado, e depois da noite violenta de sexta-feira, sobretudo no bairro de Sternschanze (numa zona também conhecida como Schanzenviertel), cerca de 50 mil pessoas concentraram-se numa manifestação intitulada “G20 - not welcome”, na sua esmagadora maioria pacífica.

A maioria das pessoas no protesto pacífico empunhava balões ou empurrava carrinhos de bebé ao som da música. Um manifestante, Oskar Zach, de 16 anos, explicou à Reuters que “a mensagem é G20 – nunca mais, e de certeza que não em Hamburgo. Queremos manter-nos pacíficos. Queremos mostrar que podemos manifestar-nos sem violência”. Um dos coordenadores da ATTAC, uma organização transnacional que propõe alternativas à globalização, quis por exemplo levar as suas “críticas ao G20 e alternativas para políticas globais justas para as ruas”, como explicou à Reuters Thomas Eberhardt-Koester. Ao início do dia, noutra marcha, intitulada "Solidarity Without Borders", milhares de pessoas manifestaram-se sem incidentes e algumas delas, segundo a televisão alemã, empunhavam cartazes que condenavam a violência dos protestos anteriores. Mensagens contra o tratamento dado aos migrantes, defesa da igualdade de género e mensagens ambientalistas pontuaram a caminhada.

Mas segundo os repórteres da Reuters, mesmo na manifestação contra o G20 um grupo de cerca de 120 pessoas entre as quais algumas com os rostos ocultados por máscaras ou com capuzes começaram a atacar a polícia ao pontapé e usando paus de bandeiras. Puseram-se depois em fuga. A Deutsche Welle relata que a polícia reforçaria entretanto a sua presença nos pontos quentes dos confrontos ocorridos na noite de sexta-feira para sábado, e que esta manhã poderá acontecer uma nova marcha, desta feita rumo ao centro de detenções em Hamburgo.

A presença de grupos activistas anti-capitalistas como o Black Bloc tem sido uma constante nos relatos de quem acompanha os protestos nas ruas, bem como a destrinça de que eles estão em minoria – a polícia alemã falava sábado de cerca de 1500 pessoas sinalizadas como violentas contra as cerca de 100 mil presentes na cidade portuária para contestar o G20 e as suas políticas. Os actos dos manifestantes mais radicais têm-se feito sentir, porém, na contabilidade da segurança da cidade, com um grande número de feridos e detidos, além dos estragos materiais, cujo valor está ainda por apurar mas que ultrapassará, segundo as estimativas no terreno, as centenas de milhares de euros.

A “onda de fúria destrutiva” é algo que o chefe da polícia de Hamburgo confessou no sábado nunca ter visto, tendo originado destruição de propriedade e confrontos nas ruas. Angela Merkel tem defendido a sua escolha de receber o G20 numa cidade – apesar de nos últimos anos outros encontros dos países mais ricos terem passado a ser em cidades menos centrais ou zonas remotas como estâncias montanhosas, demovendo assim alguns contestatários, ao invés de centros urbanos europeus. E prometeu compensações aos afectados.

“Merkel subestimou os protestos. O mínimo que devia fazer agora é vir a Sternschanze e ver os estragos com os seus olhos”, exaltou Kai Mertens, de 50 anos, citado pela Reuters. Na manhã de sábado, além dos funcionários camarários, muitos habitantes de Hamburgo juntaram-se aos trabalhos de limpeza das ruas e estragos deixados pelos manifestantes. Estimam-se centenas de milhares de euros em estragos só naquele bairro. Chanceler à parte, o Frankfurter Allgemeine noticia que o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, visitará o bairro este domingo.

Sábado, e mesmo já depois do encerramento oficial do encontro e de os líderes mundiais terem deixado Hamburgo, a polícia foi relatando no Twitter as suas continuadas altercações com manifestantes. À medida que as horas avançavam ia dando conta de “carros incendiados ou danificados pelo fogo” em Schanze, de barricadas e admitindo o uso de canhões de água e a existência de mais feridos e detenções. Tanto a Reuters quanto a Deutche Welle detalham que muitos dos manifestantes remanescentes e que atiravam objectos contra a polícia aparentavam estar embriagados. Segundo o Frankfurter Allgemeine, já não era um “Bloco negro” que confrontava a polícia, uno e mais organizado, mas sim figuras dispersas, com garrafas de cerveja à mistura, a que chama “turistas dos motins”. Terá sido usado gás pimenta e gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, escreve o diário Die Welt.

O ministro do Interior Thomas de Maizière (da CDU), citado pelo mesmo jornal, defendeu a acção policial em Hamburgo, justificada devido ao "nível de violência” existente; já o ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel (do SPD) avisou num texto de opinião na edição dominical do jornal Bild que os motins em Hamburgo podem prejudicar a imagem da Alemanha no resto do mundo.  

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