Primeiro grupo de refugiados yazidis chega a Portugal, "uma terra de liberdade"

Governo não irá limitar liberdade de circulação de quem foge da guerra. "Não temos em Portugal campos de refugiados. Nunca iremos ter", disse Eduardo Cabrita.

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Este é o primeiro grupo de 90 refugiados yazidi que chega à Portela, rumo a Guimarães, e é composto por seis famílias. Rui Gaudêncio/Público
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O grupo de 24 pessoas, com origem iraquiana, será instalado em Guimarães. Rui Gaudêncio/Público

O primeiro grupo de refugiados yazidi que escolheu vir para Portugal já chegou a Lisboa. O grupo de 24 pessoas, com origem iraquiana, foi recebido por Eduardo Cabrita, ministro-adjunto, e Paula Oliveira, vereadora para a acção social da Câmara Municipal de Guimarães, cidade onde se vão instalar.

“Quisemos que fosse o berço da nacionalidade a acolher o primeiro grupo, que tanto quis vir para Portugal”, afirmou Eduardo Cabrita. Este é o primeiro grupo de 90 refugiados yazidi que chega à Portela, rumo a Guimarães. Composto por seis famílias (oito mulheres, sete homens e nove menores) e um adulto isolado, é um grupo mais pequeno do que o que se previa inicialmente. Eram esperadas 30 pessoas, mas uma família de seis elementos cancelou a viagem por motivos de saúde.

O ministro-adjunto aproveitou a chegada dos refugiados para salientar o sucesso dos programas de acolhimento em Portugal. Para este grupo, em particular, estão preparados um “conjunto de mecanismos específicos de acolhimento que incluem apoio social, psicológico, linguístico – e não está em causa apenas o árabe, mas também a língua própria falada pela comunidade – num trabalho de preparação que decorreu ao longo de meses”, afirma, salientando também a cooperação com a comunidade local.  

“Não temos em Portugal campos de refugiados. Nunca iremos ter”, diz. “Portugal é uma terra de liberdade. As pessoas chegam a Portugal precisamente porque vêm de situações traumáticas, de guerra e perseguição”, como é o caso dos yazidi, uma minoria religiosa perseguida na Síria e no Iraque pelo auto-proclamado Estado Islâmico. E tal como chegam, são livres de sair.

“Portugal não tem uma estratégia que leve a uma limitação da sua liberdade de circulação. Queremos que sejam bem acolhidos e se integrem na sociedade portuguesa até poderem voltar para os seus países de origem”, explica Eduardo Cabrita. 

Desde o início do programa, a 15 de Dezembro de 2015, chegaram 1150 pessoas. Só a Guimarães chegaram 43 refugiados desde 2015, mas cerca de 20 já abandonaram. Alguns dos cidadãos isolados, que chegaram numa primeira fase do projecto, “cidadãos livres”, como lembra a vereadora de acção social da câmara de Guimarães, “abandonaram voluntariamente o projecto”. 

“As taxas de saída são semelhantes às que existem em países como o Luxemburgo ou a Suíça”, lembra o ministro-adjunto. E Portugal é destacado pelas Nações Unidas como um dos países onde o processo de integração funciona de maneira mais eficaz: “um processo considerado de referência no quadro da ONU”.

O segredo do sucesso, para Eduardo Cabrita é o facto de os que chegam serem integrados nas comunidades. “E, ao contrário de outros países europeus, não existirem manifestações de xenofobia”, explica.

O próximo grupo de refugiados yazidi a chegar ao país – e desta vez com crianças e jovens do programa de acolhimento de menores não acompanhados – “não chegará antes de Abril”, afirma Eduardo Cabrita, e vão ser acolhidos na zona de Lisboa.

“Tenho muitos sonhos em Portugal”

O grupo de yazidis chegou esta segunda-feira, por volta das 14h50, mais de uma hora depois do previsto, e vinha acompanhado pelos membros da Organização Internacional para a Migração (OIM). O voo, vindo de Atenas, fez escala em Roma antes de chegar ao Aeroporto Humberto Delgado.

O grupo manteve-se junto o tempo todo e a única coisa que os distinguia dos demais passageiros era o facto de não trazerem bagagem, apenas um saco onde se lia “OIM”. O grupo era composto por várias crianças, algumas de colo e outras que já andavam pelo próprio pé, uma mulher em cadeira de rodas, vários casais e um homem que empunhava um cartaz onde se lia “Thanks, Portugal. I love you”, ou, em português “Obrigado Portugal. Amo-te”. Quase todos sorriam.

Cada um terá, certamente, uma história diferente. Em comum, todos têm o facto de terem escolhido Portugal para refazerem a sua vida. Um deles, o único que viajava sozinho e que o PÚBLICO não identifica por razões de segurança e privacidade, contou aos jornalistas um pouco da jornada que o levou até Lisboa. O yazidi, 34 anos, nasceu no Iraque mas foi obrigado a abandonar o país porque estava a ser perseguido pelo auto-proclamado Estado Islâmico.

“O Estado Islâmico não tolera a nossa religião nem a nossa Nação”, explica.“Perdi toda a minha família para o Estado Islâmico”: pais, irmãos e irmãs. Fugiu sozinho “a pé, e às vezes, de carro”, por estradas perigosas e sem documentos. Partiu do Iraque para a Turquia, e depois para Salonica, na Grécia, onde esteve mais ou menos um ano.

Esta segunda-feira, chegou a Lisboa com destino a Guimarães. De Portugal, sabe que é “um lugar com História e pessoas muito simpáticas e educadas”. “Tenho muitos sonhos em Portugal”, afirma. Conta-nos que espera aprender a língua e poder continuar os estudos – e diz que é aqui que quer começar o doutoramento que ficou por fazer no Iraque.

Ao longo da conversa, repetiu várias vezes os agradecimentos: “Estou muito feliz. Nasci hoje. Sinto-me seguro. Obrigada por tudo”. 

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