Ofensiva para reconquistar Mossul entra na fase derradeira

Forças governamentais iraquianas iniciaram operação para expulsar o Daesh do último reduto na área urbana da cidade, onde permanecem 650 mil civis.

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Forças iraquianas disparam sobre posições do Estado Islâmico em Mossul. Reuters/KHALID AL-MOUSILY

“Preparem-se para receber os filhos das vossas Forças Armadas e cooperar com eles.” Assim começavam os milhares de folhetos lançados sobre a zona ocidental de Mossul pela Força Aérea iraquiana na véspera do início da ofensiva sobre aquele que é o último reduto urbano do Daesh na cidade.

Às primeiras horas de domingo, centenas de tanques e veículos militares avançaram do deserto para a zona urbana de Mossul através da frente ocidental, apoiados por bombardeamentos da coligação internacional liderada pelos EUA. Na televisão, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, anunciava “uma nova fase na operação” para tomar aquela que é a maior cidade ainda na posse do grupo radical islâmico. “As nossas forças estão a iniciar a libertação dos cidadãos do terror do Daesh”, afirmou Abadi.

“Mossul seria um combate duro para qualquer exército do mundo”, afirmou o comandante norte-americano da coligação internacional, tenente-general Stephen Towsend, através de um comunicado.

Na sua retirada perante o avanço das forças iraquianas, os combatentes do Daesh deixaram para trás carros armadilhados, atrasando a progressão no terreno, nota o correspondente da BBC, Quentin Sommerville, que está a acompanhar a ofensiva. “As forças governamentais fizeram ganhos rápidos mas acabaram por ser contidas à medida que foram tomando aldeias”, diz o correspondente, acrescentando que “os tiros de metralhadoras, morteiros e fogo de artilharia são constantes”. A sul, o progresso das forças governamentais, em conjunto com a polícia iraquiana, colocou o aeroporto a uma distância muito curta.

“A zona ocidental de Mossul tem certamente o potencial de ser mais difícil, com combates casa a casa a uma escala maior e mais sangrenta”, dizia à AFP o analista do Soufan Group, Patrick Skinner. Quando as forças governamentais chegarem à cidade velha, as grandes dificuldades vão passar a ser as ruas estreitas, onde será praticamente impossível fazer entrar tanques ou veículos de maior envergadura.

A operação para reconquistar Mossul ao grupo jihadista foi iniciada em Outubro, após meses de planeamento, e junta uma grande quantidade de intervenientes. Depois de várias fases de avanços e recuos, as posições do Daesh confinam-se à margem ocidental do rio Tigre e ao aeroporto a sul. A leste, o avanço foi feito sobretudo pelas unidades de contraterrorismo, a sul pela polícia iraquiana e a norte uma força conjunta do exército e de milícias xiitas, explica a Al-Jazira.

Mais de quatro meses depois do início da operação, os receios manifestados pelas Nações Unidas de um êxodo maciço de civis à medida que a ofensiva se aproximasse não se concretizou. Desde então, abandonaram Mossul cerca de 46 mil pessoas e permanecem nas zonas ocupadas pelo Daesh mais de 650 mil.

Retomar o controlo da cidade tornou-se um dos grandes desígnios nacionais do Governo iraquiano, apoiado por Washington. Foi na mesquita desta cidade do norte do Iraque que o líder do Daesh, Abu Bakr al-Baghdadi, fez a sua única intervenção pública, num discurso filmado em Junho de 2014 em que proclamava a edificação de um “califado” nos territórios que o grupo ocupava no Iraque e na Síria.

A instabilidade em Mossul pode, no entanto, não cessar com a retomada do controlo pelas autoridades iraquianas. A extensa população sunita local teme que à libertação se sucedam ajustes de contas levados a cabo pelas milícias xiitas que participam na ofensiva e que encaram muitos dos habitantes locais daquele ramo do islão como “colaboradores” do Daesh. A maioria dos analistas concorda que cabe às autoridades militares e policiais iraquianas manter a pacificação da cidade após o final da operação.

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