Iglesias vence em toda a linha na assembleia do Podemos

Secretário-geral reforçado com maiorias em todas as votações, quando as bases pedem "unidade" após divergências na cúpula do jovem partido.

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Iglesias na Assmbleia Cidadã que reforçou o seu poder e validou a sua estratégia para o Podemos CHEMA MOYA/EPA

Pablo Iglesias saiu da Assembleia Cidadã do partido espanhol Podemos um líder mais forte de um partido mais à sua medida: mais próximo dos movimentos sociais, mais reivindicativo, menos próximo do PSOE. “Unidade” e “humildade” foram as palavras repetidas por Iglesias depois de terem sido conhecidos os resultados. “Unidade” e “Sim, podemos!”, respondeu-lhe de volta a assembleia.

O secretário-geral venceu, com 89% dos votos, a reeleição numa assembleia este domingo em Madrid, em que participaram mais de 155 mil pessoas. A sua lista para a direcção venceu também, com 60%, assim como os documentos que apoiou para a orientação política, organização, ética e igualdade.

O jovem partido, nascido do movimento dos Indignados em 2014, decidiu antecipar a sua assembleia-geral para definir o que fazer depois do esforço eleitoral do final de 2015 e de 2016.

Desenharam-se duas opções diferentes: a de Iglesias, de manter o partido fiel à sua raiz de luta social, e a do seu número dois e porta-voz do grupo parlamentar do partido, Iñigo Errejón, que defendia uma linha mais pragmática e de menor confronto para ganhar poder político.

A decisão de Iglesias concorrer com a Esquerda Unida antes das eleições de Junho levou os dois partidos a obterem uma menor votação do que a que tinham tido a concorrer separados em Dezembro anterior (as eleições de 2015 foram repetidas depois de não ter sido possível chegar a um entendimento para Governo). Depois de se ter antecipado que poderiam ser a segunda força política, acabaram atrás do PSOE.

“Não há dúvidas de que cometemos muitos erros”, declarou Iglesias. “É impossível não o fazer quando se tomam decisões. Mas prometo-vos uma coisa: nunca estaremos do lado errado. Junto com o povo, temos de continuar o projecto social de ter um país soberano mais justo, mais igual, mais representativo, mais democrático e mais moderno”.

Uma questão de estratégia

Entre as boas notícias para Iglesias está, diz o diário El País, que a expressão da sua votação para líder mostra que os apoiantes de Errejón – que não era concorrente – o apoiaram a ele apesar das diferenças de opinião. O outro concorrente a secretário-geral, Juan Moreno Yagüe, da Andaluzia, obteve apenas 10,9% dos votos.

Na votação a questão mais importante era, assim, a composição da direcção. Iglesias obteve mais de 112 mil votos para a sua lista, enquanto Errejón se ficou pelos 57 mil, correspondendo a 37 conselheiros para o líder e 23 para o seu número dois. Segundo o El País, em votos individuais Errejón ficou atrás do quinto candidato da lista de Iglesias. Em termos de políticas, 56% escolheram os planos de Iglesias contra 33% de Errejón.

O jornal espanhol clarifica que a divisão dos dois era menos ideológica e mais de estratégia: Iglesias quer um partido de oposição de choque com a “grande coligação” do Partido Popular, Partido Socialista e Cidadãos, enquanto Errejón defendia que o partido recuperasse a “iniciativa parlamentar” e avançasse acordos com outras forças.

Mas na campanha o tom subiu, e Iglesias acusou Errejón de ser o responsável pela maior parte das críticas que fez à direcção, e Errejón a acusar Iglesias de “desligar” o partido de muitos espanhóis.

Apesar de se prenunciar uma assembleia de guerra, esta acabou por ser de paz, comenta o diário El País. Sábado, os dois representantes mostraram-se comedidos e abraçaram-se.

Os dois prometeram, no entanto, unidade: Errejón disse que apoiaria Iglesias para líder, e a votação mostra que a fractura não afectou a força de Iglesias na liderança; o secretário-geral tinha dito que se demitia se a sua lista não tivesse a maioria dos votos, o que não aconteceu. Agora, Iglesias promete trabalhar com Errejón, a quem foi dar um abraço no final da votação. “Quero ter os melhores perto, mesmo que não pensem como eu”, tinha declarado a semana passada.

No entanto, Errejón pediu a Iglesias que respeite “o mandato da pluralidade”. 

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