Trudeau elogiou Fidel e as redes sociais não perdoaram

Primeiro-ministro canadiano reconhece que Castro era um ditador, mas quer manter boas relações com Cuba.

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Tal como tantos chefes de Estado espalhados pelo mundo, também o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, enviou as suas condolências pela morte de Fidel Castro. Mas as reacções às suas palavras são tudo menos elogiosas e nas redes sociais foi mesmo criada uma hashtag, #trudeauelogies, para nomear as piadas que se fazem a partir do que Justin Trudeau escreveu.

Na missiva, o governante referiu que el Comandante era um “líder notável”, que fez “melhorias significativas na educação e na saúde” do seu país. Além disso, o seu pai, Pierre Trudeau, que em tempos ocupou o cargo que agora é do filho, tinha em Fidel um “amigo”.

As reacções não se fizeram esperar. Primeiro da oposição, com os conservadores canadianos a indignarem-se com tais palavras de elogio a um ditador que fez desaparecer milhares de pessoas, dizem; depois, surgiram de fora, do país vizinho, com os senadores norte-americanos do Partido Republicano – Ted Cruz, do Texas, e Marco Rubio, da Florida – a criticarem-no. O primeiro perguntou por que razão os “jovens socialistas idolatram tiranos totalitários”; o segundo questionou se a declaração “vergonhosa e embaraçosa” não seria uma brincadeira.

Depois disso, o elogio caiu nas redes sociais e muitos imaginaram como seria o elogio fúnebre de Justin Trudeau se o morto fosse Adolf Hitler, José Estaline, Osama bin Laden, criminosos como Charles Mason ou mesmo figuras de ficção como Darth Vader.

Justin Trudeau considera que Castro era um líder “maior do que a vida, que serviu o seu povo por mais de meio século”, sublinhando que foi um dos chefes de Estado que mais tempo esteve no poder. Apesar de ser uma “figura controversa, tanto os seus apoiantes como os seus detractores reconhecem a sua dedicação e amor pelo povo cubano que também tinham um profundo afecto por el Comandante”, continua, acrescentando que lamenta a morte de Fidel Castro.

O primeiro-ministro canadiano lembrou que conheceu o antigo líder cubano depois de o pai ter morrido e que sabia que o seu progenitor tinha “orgulho em chamar amigo” a Fidel. Pierre Trudeau foi primeiro-ministro do Canadá durante 15 anos e foi o primeiro chefe de Estado de um país pertencente à NATO a visitar Cuba, em 1976 – na altura levantou a questão da violação dos direitos humanos naquele país.

Apesar de todas as críticas e brincadeiras em torno das palavras de Trudeau, este não se arrepende do que disse e, neste domingo, justificou que o que escreveu tinha como objectivo assinalar a morte de um chefe de Estado de um país com o qual o Canadá tem boas relações. “O facto é que Fidel Castro teve um impacto profundo e duradouro no povo cubano”, reforçou aos jornalistas, citado pela Reuters.

Trudeau reconhece que os direitos humanos são uma preocupação e também que Castro era um ditador. No entanto, o Canadá mantém relações com Cuba e já disse que pretende estreitá-las. Ao Montreal Gazette, o historiador Donald Cuccioletta da Universidade do Québec, lembra que o país sempre foi um “amigo próximo” de Cuba, mesmo em tempos de governos do Partido Conservador.

O primeiro-ministro está a olhar para os futuros parceiros, diz o historiador, lembrando que uma política mais proteccionista por parte dos EUA, obrigará o Canadá a procurar outros mercados. “Cuba é um deles, a China é outro e a Europa outro”, conclui.

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