Bruno pegou no carro da Uber às 6h e apenas pede paz para trabalhar

Jovem motorista trocou os carros da polícia militar em São Paulo pelos da Uber em Portugal há três meses. Espera um dia de trabalho sem parar e apenas pede paz.

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Nelson Garrido

Bruno espera ter um dia agitado. Dos 13 motoristas da empresa de animação turística parceira da Uber só ele e um outro colega aceitaram trabalhar neste dia de protesto dos taxistas. “O patrão deu folga a quem não se sentisse confortável para trabalhar hoje”, diz este cidadão brasileiro de 27 anos, que há quatro meses trocou a cidade de São Paulo por Lisboa. Há três meses que trabalha para a Uber.

Bruno, que pediu ao PÚBLICO para ser identificado apenas pelo nome próprio, “para evitar algum problema”, era motorista da polícia militar no Brasil. Veio para Portugal à procura de “uma vida melhor” e, para já, diz ter “a sorte de a ter encontrado”.

“Tenho carta profissional, nomeadamente de pesados, e esperava encontrar trabalho no transporte de longo curso, mas a Uber apareceu primeiro e estou muito satisfeito”, conta.

Como todos os dias, pegou ao serviço às 6h da manhã. Vai estar agarrado ao volante até perto das 22h. Às 7h horas respondeu à chamada do jornalista do PÚBLICO. “Já se nota que hoje há mais pedidos do que o habitual. Não estava em Portugal durante ao último protesto dos taxistas, mas os meus colegas dizem que hoje vai ser uma loucura. Não vou parar o dia todo. Vão ser pedidos atrás de pedidos. Este protesto acaba por ser uma enorme publicidade para Uber.”

Bruno diz ter estudado o percurso do protesto dos taxistas e diz que vai evitar “andar próximo” desse trajecto. Já assistiu a protestos dos motoristas de táxi no Brasil e, lá como cá, diz que “não fazem sentido”. “Nós, os motoristas da Uber, apenas queremos trabalho e a Uber dá-nos essa oportunidade. Só queremos paz, não queremos guerra com os taxistas, mas eles entendem que o caminho é a guerra. Esse caminho é errado e eles é que vão acabar por perder, porque quem quer guerra nunca ganha.”

O jovem motorista diz estar “muito satisfeito” com o trabalho que encontrou em Portugal. Diz-se bem pago e já tem planos para o futuro. “Já constitui uma empresa de animação turística. O meu patrão aceitou ser meu fiador para um empréstimo bancário e em breve penso comprar um carro e concorrer para ser parceiro da Uber numa sociedade com um amigo meu”, conta.

Assim que concluiu o serviço em Alcântara, a aplicação da Uber no telemóvel de Bruno tocou imediatamente com um novo pedido. “Isto hoje vai ser uma loucura. Não vou parar o dia todo.”

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