Dezenas de soldados sírios mortos em raide da coligação anti-Daesh

Rússia fala em “erro de coordenadas, uma consequência directa da teimosia dos EUA em recusarem coordenar as suas acções contra os grupos terroristas na Síria”.

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Há dois anos que os EUA lideram uma coligação contra os radicais no Iraque e na Síria Alberto Pizzoli/AFP

Num momento já tenso, com trocas de acusações e bombardeamentos a ameaçarem a trégua em vigor desde segunda-feira, um raide da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos para combater os jihadistas atingiu as forças do regime sírio junto ao aeroporto de Deir Ezzor. Damasco fala em “62 mortos e uma centena de feridos”; o Observatório Sírio dos Direitos Humanos diz que morreram “pelo menos 80 soldados”.

O Exército dos EUA confirmou o raide, explicando que “o ataque aconteceu numa área que a coligação já tinha alvejado no passado”. As forças da coligação “acreditavam estar a atacar uma posição do Estado Islâmico” e o bombardeamento “foi interrompido”. A coligação, dizem ainda os militares americanos num comunicado, “não atacaria intencionalmente uma unidade militar síria conhecida”.

"A Síria é um teatro de operações complexo com diferentes forças militares e milícias que se encontram num perímetro próximo", continua a declaração. "A coligação vai averiguar as circunstâncias deste ataque e ver se podem ser retiradas lições", diz ainda o texto do comando americano para o Médio Oriente (Centcom).

Esta cidade, capital da província com o mesmo nome, no Leste da Síria, está toda rodeada por combatentes do Daesh, mas há bairros que se mantêm sob controlo do Exército fiel a Bashar al-Assad.

Segundo um comunicado do Exército russo, aliado de Damasco e presente no terreno, “aviões da coligação internacional antijihadista fizeram quatro ataques aéreos contra as forças sírias cercadas pelo grupo Estado Islâmico perto do aeródromo de Deir Ezzor”. Russos e sírios dizem que “62 soldados sírios foram mortos e uma centena ficaram feridos nestes ataques”.

Antes, numa declaração das Forças Armadas sírias, o regime acusava os Estados Unidos de “agressão séria e descarada” contra a Síria, oferecendo assim, segundo Damasco, “provas conclusivas” de que Washington e os seus aliados apoiam o grupo extremista.

Numa lista que os americanos tinham divulgado com os ataques do dia incluíam-se alguns raides em Deir Ezzor, nomeadamente contra “estradas que servem de reabastecimento” aos radicais.

O comando sírio diz ainda que as bombas atingiram soldados que se preparavam para enfrentar o Daesh e que os raides abriram caminho para que os fundamentalistas conseguissem reconquistar a sua posição em Jebel Tharda, perto do aeroporto.

“Se este ataque foi o resultado de um erro de coordenadas é uma consequência directa da teimosia dos EUA que recusam coordenar com a Rússia as suas acções contra os grupos terroristas na Síria”, afirma o Ministério da Defesa russo na mesma declaração.  

Moscovo diz que os ataques, entre as 17h e as 17h50 locais, foram realizados por dois F-16 e dois A-10, que entraram no espaço aéreo sírio vindos do Iraque. O Observatório Sírio, que tem uma vasta rede de activistas no terreno e tenta manter uma contabilidade das vítimas, não foi capaz de identificar os aviões envolvidos.

De acordo com a trégua iniciada há quase uma semana na sequência de um acordo negociado pelos EUA e pela Rússia, após sete dias de “diminuição significativa da violência” americanos e russos deveriam estabelecer um centro de comando conjunto para começaram a coordenar os ataques contra o Daesh e a ex-Frente al-Nusra (actual Jabhat Fatah al-Sham). A violência diminuiu, de facto, bastante, e até sexta-feira nem houve registo de vítimas civis, quando o Observatório Sírio deu conta de bombardeamentos em duas localidades rebeldes (uma na província de Idlib, a outra na de Alepo) e da morte de duas crianças e um homem perto de Idlib.

O problema é que o acordo prevê ainda que seja levada ajuda humanitária a todos os que dela precisem e isso ainda não aconteceu – segundo a ONU, porque o regime não autoriza o transporte de alimentos e outros bens essenciais para as zonas da cidade de Alepo controladas pela oposição, onde 250 mil civis desesperam.

Os EUA insistem que “não porão a funcionar um centro de coordenação militar” se a ajuda urgente não chegar. A criação do centro tem de ser precedido de “sete dias consecutivos de redução do nível de violência e de acesso ininterrupto da ajuda humanitária”, afirmou Obama, citado pela Casa Branca, numa reunião da sua equipa de Segurança Nacional.

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