O boxe salvou-o das ruas de Salvador

A história do pugilista que começou nas lutas das favelas e acabou nas lutas no Rio 2016

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Robson Conceição na cerimónia de entrega de medalhas PETER CZIBORRA/Reuters

Robson Conceição, campeão olímpico de boxe (peso ligeiro 60kg), nasceu no estado da Bahia, na cidade de Salvador. Mas o seu salvador foi mesmo o boxe. “Se não fosse o boxe, estaria morto”, disse o atleta brasileiro, que começou nas lutas das favelas e acabou nas lutas do Rio 2016. 

Criado num bairro problemático, nos subúrbios de Salvador, o lutador brasileiro era franzino em criança, mas muito intrépido e, sobretudo, ousado. Gostava de se envolver em lutas e confrontos, motivo que o levou a abraçar o boxe, para se defender melhor dos problemas em que se colocava.

Chegar, ver e sair. Duas vezes.

Em Pequim 2008, Robson foi derrotado logo no combate de estreia, numa participação com pouco brilho. Em 2012, em Londres, o brasileiro “repetiu a dose” e foi eliminado, mais uma vez, no combate de estreia. Em 2016, no Rio de Janeiro, a cerca de 1600 quilómetros do bairro onde aprendeu a lutar, Robson Conceição entrou no pavilhão 6 do Riocentro com o apoio de uma enchente vestida de amarelo e verde. Um ensurdecedor “Ô-lé-lé, ô-lá-lá, o Robson vem aí e o bicho vai pegar” recebeu o lutador brasileiro, “empurrado” pela nação brasileira.

Depois de um combate que o brasileiro dominou, Robson e o gaulês Sofiane Oumiha ficaram no centro do ringue, à espera que o árbitro levantasse o braço do pugilista vencedor. O desfecho era esperado e Robson Conceição saltava, de braço esquerdo levantado, contrastando com um francês cabisbaixo. O árbitro levantou o braço direito de Robson, que se ajoelhou perante uma “torcida” brasileira pronta a deitar abaixo o pavilhão.

Robson Conceição “ofereceu” à nação brasileira a primeira medalha da sua história, no boxe. De Salvador ao Rio de Janeiro e da desilusão de Londres ao estrelato da “cidade maravilhosa”, Robson derrotou o gaulês Sofiane Oumiha, por decisão unânime dos juízes. “Agora quero festa, no dia 18, em Salvador", disse, sorridente, o pugilista.

Hoje, Robson assume que foi salvo pelo boxe, que tornou o tal jovem destemido e audaz, num adulto humilde, pacífico, disciplinado e… campeão olímpico. A história de Robson Conceição tem paralelo na de Rafaela Silva, judoca brasileira, também campeã olímpica no Rio, que também vem de um bairro problemático. Nascida na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio de Janeiro, conviveu com drogas e violência. Se este ponto comum não chegar, eis o principal: ambos mudaram a sua vida pelo desporto.

“Tanto eu como a Rafaela poderíamos ser apenas mais um”, reconheceu o pugilista que, tal como a judoca, já não é mais um. O brasileiro considerava-se uma pessoa violenta, mas, agora, é “apenas” um bravo pugilista, que, aos 27 anos, leva para Salvador da Bahia o ouro precioso do Rio 2016. Texto editado por Jorge Miguel Matias

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