Novo primeiro-ministro da Turquia promete sistema executivo presidencial a Erdogan

Binali Yildirim, um dos mais fiéis aliados do Presidente Erdogan, assume a condução do Governo e a responsabilidade pela revisão da Constituição.

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Binali Yildirim, o novo líder do AKP e primeiro-ministro da Turquia, cumprimenta membros do partido à chegada ao congresso REUTERS/Umit Bektas

O ministro dos Transportes e Comunicações da Turquia, Binali Yildirim, um dos mais próximos aliados do Presidente Recep Tayyip Erdogan, foi confirmado como líder do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), no congresso extraordinário reunido este domingo em Ancara – e como substituto de Ahmet Davutoglu, o primeiro-ministro que decidiu afastar-se do cargo por "diferenças" com o chefe de Estado.

Davutoglu foi o principal negociador do controverso acordo entre a União Europeia e a Turquia para travar o fluxo de refugiados e migrantes daquele país para território europeu. Na sua primeira intervenção aos membros do seu partido, Binali Yildririm considerou importante esclarecer a "confusão" em torno desse plano: a União Europeia tem de tornar clara a sua política migratória, e a Turquia tem de saber exactamente quais são as suas perspectivas em relação à sua intenção de aderir ao bloco dos Vinte e Oito, defendeu.

Em troca da cooperação da Turquia com o realojamento de refugiados e migrantes chegados à Europa depois de 20 de Março, Bruxelas aceitou avançar com o processo – e num primeiro gesto de boa-vontade, acedeu à liberalização dos vistos de entrada de cidadãos turcos no espaço europeu – mediante o cumprimento de algumas contrapartidas, nomeadamente no que diz respeito ao respeito pelos direitos humanos, liberdades individuais e garantias políticas.

"A Turquia continuará sempre a melhorar a sua legislação no sentido de promover os direitos humanos e a democracia independentemente do acesso à União Europeia", prometeu Binali Yildirim, que começaria a trabalhar para uma remodelação governamental ainda este domingo.

A promoção de Yildirim ao topo do Governo não surpreende os analistas e observadores da política turca: na última reunião magna do partido, que elegeu Davutoglu para a liderança, o ministro dos Transportes e Comunicações, que é um dos homens de mão e aparentemente um dos "favoritos" de Erdogan, já se tinha apresentado como uma possibilidade. Desta vez, correu sem adversário – e foi eleito por unanimidade e aclamação, com todos os 1405 votos válidos. A sua escolha é um “prémio à sua lealdade inquestionável” com o Presidente, escreve a BBC.

A principal tarefa de Binali Yildirim, tanto no Governo como no partido, será lançar as bases de uma revisão constitucional destinada a reforçar os poderes presidenciais de Erdogan. A mudança para um sistema presidencial não é inteiramente pacífica dentro das fileiras do AKP, que mesmo assim continua a encarar Recep Erdogan como o seu líder espiritual. “Erdogan é o grande modelo do AKP”, sublinhou o novo líder do partido.

Para que não restassem dúvidas, Yildirim elencou os dois principais desejos de Erdogan como as suas duas maiores prioridades. “A missão mais importante é legalizar a actual situação e mudar a Constituição, para consagrar um sistema executivo presidencial”, declarou. Igualmente importante é o combate ao terrorismo – leia-se, às actividades do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). “Se me perguntam quando é que vão acabar as operações anti-terrorismo, respondo muito simplesmente: quando for possível garantir a segurança dos nossos cidadãos. Não daremos tréguas enquanto os terroristas do PKK, com as suas mãos sujas de sangue, ponham fim à luta armada”, prometeu.

"O novo líder não representa nenhuma ameaça à popularidade e autoridade do Presidente. E muito menos interpretará o seu papel como Davutoglu: ele compreende que é Erdogan quem tem a última palavra", disse à Al-Jazira o líder da bancada parlamentar do AKP, Nurettin Canikli.

A carreira pública e política de Binali Yildirim está intimamente ligada a Erdogan. Entre 1994 e 2000, o agora primeiro-ministro foi o director-geral da companhia de ferries de Istambul, trabalhando directamente com Erdogan, que era o presidente da câmara. Em Agosto de 2001, entrou na vida política ao seu lado, enquanto fundador do partido islamista Justiça e Desenvolvimento. Um ano depois, foi eleito deputado, e chamado por Erdogan para o seu Governo como ministro dos Transportes – um cargo que deixou em 2014 para concorrer à câmara de Izmir, mais uma vez para atender a um pedido de Erdogan, interessado em travar o avanço da oposição secular. Mas Yildirim perdeu as eleições e foi chamado a trabalhar como conselheiro no gabinete de Erdogan, até voltar ao parlamento nas eleições de 2014 e de novo à pasta dos Transportes no Governo.

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