Sócrates: “Nunca seria primeiro-ministro sem ter ganho as eleições”

Há distanciamento do Governo PS e da sua gestão no BPI, reconhecimento da sua legitimidade, manifestação de apoio ao executivo e críticas a Bruxelas

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José Sócrates nFactos/Fernando Veludo

José Sócrates, em entrevista dada esta quinta-feira à Antena 1, falou do Governo de António Costa a dois níveis. Da sua génese, sem que o PS tenha sido o partido mais votado nas últimas legislativas, e na sua acção, no caso concreto do BPI.

“Nunca seria primeiro-ministro sem ter ganho as eleições”, disse o antigo líder do PS e ex-chefe de Governo. Conseguir uma maioria parlamentar sem ser o líder do partido mais votado é algo que Sócrates nunca admitiria. “A minha resposta é que não faria, mas tem a ver comigo próprio, por uma razão muito simples”, disse o antigo governante. “Fui por duas vezes primeiro-ministro, mas nunca seria primeiro-ministro sem ter ganho as eleições, mas esse é um problema meu”, considerou.

Apesar desta posição ser próxima aos argumentos que o PSD e CDS-PP da coligação Portugal à Frente esgrimiram nas primeiras reacções à constituição do executivo, o antigo secretário-geral dos socialistas demarca-se das suas consequências. “Reconheço toda a legitimidade deste Governo e de António Costa”, declarou.

Aliás, noutro momento da entrevista, Sócrates criticou a ofensiva política da direita contra o executivo do PS apoiado pelo PCP, Bloco de Esquerda e Verdes. “Uma batalha política inqualificável, porque só há uma legitimidade politica que é a constitucional”, lamentou.

“Sou apoiante deste Governo, gosto deste Governo, tenho aliás neste Governo dos meus melhores amigos políticos, Augusto Santos Silva”, prosseguiu.

No entanto, o ex-dirigente socialista e primeiro-ministro marcou distância perante o desempenho do executivo na gestão do caso BPI. “Empenho excessivo” do Governo foi a forma como Sócrates se referiu à aprovação do decreto-lei que permite a desblindagem dos estatutos dos bancos face à limitação dos direitos de voto dos accionistas.

“Acho que o decreto foi um erro e um erro do Presidente da República, julgo que há uma precipitação do Governo em intervir directamente”, opina. “O empenho do Governo neste caso foi excessivo e um erro político, que espero que possa ser corrigido e ter um desenvolvimento que não traga prejuízos para o país. Mas o Governo fez isso com boa intenção de resolver um problema”, conclui.

Neste aspecto, a argumentação de Sócrates é próxima dos críticos de direita a acção do executivo e dos reparos da empresária angolana Isabel dos Santos.

Por fim, José Sócrates é particularmente duro com Bruxelas. “Vejo a posição da Comissão Europeia, absolutamente extraordinária”, comenta: “Aquilo não são opiniões técnicas, científicas, aquilo são opiniões ideológicas. Eles falam de reformas. As reformas são as que o neoliberalismo dominante na democracia de Bruxelas quer que se façam, isto é, menos protecção no trabalho e menos protecção social. É por isso que este governo da Europa tem um problema democrático base, que se tem acentuado”, assinala.

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