Macedónia dispara gás lacrimogéneo e balas de borracha contra migrantes em Idomeni

Centenas de pessoas tentavam derrubar vedação que os impede de seguir caminho para o Norte da Europa. Governo grego fala de "acto perigoso e deplorável".

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Migrantes e requerentes de asilo responderam atirando algumas latas de gás contra a polícia Stoyan Nenov/Reuters

A polícia macedónia disparou várias latas de gás lacrimogéneo e balas de borracha contra migrantes e requerentes de asilo que ameaçavam este domingo derrubar a vedação erguida em Idomeni, na fronteira com a Grécia, onde milhares de pessoas estão retidas sem poderem avançar para o Norte da Europa ou recuar para Atenas, onde se arriscam a ser deportadas. O grupo Médicos Sem Fronteiras afirma ter dado cuidados médicos a cerca de 300 pessoas, incluindo 30 com ferimentos causados por balas de borracha.

A organização humanitária acusa  os agentes macedónios de terem disparado não só para a multidão de 500 pessoas que protestavam perto da vedação, mas também para o campo de refugiados que abriga milhares de migrantes e requerentes de asilo. Como resultado, afirmou à Reuters, muitas mulheres e crianças desenvolvera problemas respiratórios por exposição ao gás lacrimogéneo. As pessoas têm-se acumulado em Idomeni desde que vários países nos Balcãs encerraram as suas fronteiras, no final de Fevereiro. A Reuters conta dez mil migrantes e requerentes de asilo do lado grego da vedação.

Idomeni tornou-se desde então um grande foco de tensões entre migrantes e autoridades macedónias. Há protestos quase diariamente e confrontos esporádicos. Os deste domingo explodiram ao final da manhã, quando centenas de pessoas ameaçarem derrubar a vedação. “Atiraram pedras à polícia”, conta um polícia macedónio à Reuters. “A polícia respondeu disparando gás lacrimogéneo. Os migrantes estavam a empurrar a vedação, mas do lado grego. A vedação ainda está lá, eles não conseguiram passar.”

O Governo grego condenou os incidentes deste domingo. “O uso indiscriminado de químicos, balas de borracha e granadas de atordoamento contra populações vulneráveis, e particularmente quando não há razões para o uso dessa força, é um acto perigoso e deplorável”, escreveu George Kyritsis, porta-voz do gabinete de assuntos migratórios no Governo — a polícia macedónia admite apenas o uso do gás, mas não balas de borracha ou granadas. “Apelamos às autoridades da Macedónia que compreendam os potenciais riscos do uso da violência contra refugiados e migrantes.”

Depois do encerramento da rota dos Balcãs, a polícia grega tentou várias vezes retirar pessoas da zona da fronteira e chegou a transportar centenas de migrantes para centros de recepção noutras partes do país. Mas muitos recusam-se a sair de lá, por receio de serem deportados, principalmente agora que a União Europeia assinou um acordo de deportação com a Turquia.

O acordo de deportação com Ancara não abrange quem chegou à Grécia antes do dia 28 de Março — quase todos os que desembarcaram depois desse dia, incluindo refugiados sírios, serão enviados de volta —, mas também não é claro o que acontecerá com estas dez mil pessoas presas entre fronteiras. Podem regressar a Atenas e pedir lá asilo, mas nesse caso enfrentam meses de espera num momento em que a própria União Europeia admite que o seu sistema de asilo está ultrapassado e propõe mudanças substanciais ao seu funcionamento.

À medida que o tempo passa, as condições nos campos de Idomeni pioram, como testemunhava há dias o correspondente da revista Time na fronteira com a Macedónia. “As condições estão cada vez mais nefastas, com falta de comida, casas de banho e cuidado médico, já para não falar de camas”, escreve Simon Shuster. “Espalhados por num campo onde antes crescia milho, milhares de residentes no campo dormem ao longo de semanas em frágeis tendas no cimo da lama, muitas vezes queimando plástico e outros tipos de lixo para se aquecerem.”

 

 

 

 

 

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