Activistas presos pedem a Luaty que cesse a greve de fome

Jornalista Rafael Marques visitou os companheiros de luta do rapper luso-angolano na prisão.

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Rafael Marques visitou os 14 presos na cadeia de São Paulo, em Luanda, e já transmitiu as mensagens a Luaty Beirão Miguel Manso (arquivo)

Os 14 jovens activistas angolanos detidos pedem a Luaty Beirão para terminar a greve de fome porque "precisam dele vivo" para "continuarem a luta", disse nesta quarta-feira à agência Lusa o jornalista Rafael Marques, que os visitou a todos.

Luaty Beirão, músico luso-angolano de 33 anos, cumpriu hoje o 31.º dia de greve de fome em protesto contra a prisão a que o grupo de activistas está sujeito desde Junho, depois de acusados de tentativa de golpe de Estado.

"Eles pedem que o Luaty regresse para o seu meio, como líder moral, como indivíduo a quem olham com bastante respeito, que volte com saúde e que volte com vida", relatou à Lusa Rafael Marques, que visitou os 14 presos na cadeia de São Paulo, em Luanda, tendo depois transmitido as mensagens a Luaty Beirão, que se encontra internado numa clínica da capital angolana.

Rafael Marques disse à Lusa que recolheu mensagens dos 14 jovens e que as levou a Luaty, "para que ele, sem pressão, ouça a voz dos seus companheiros de causa, dos seus companheiros de prisão, aquilo que eles pensam que devem de ser os próximos passos".

Rafael Marques conseguiu uma autorização para visitar hoje os detidos, "por questões humanitárias". "Coube-me apenas, na minha qualidade de defensor dos direitos humanos, ouvir os detidos, o que eles pensam da greve de fome. O Luaty quer voltar para junto deles e manter a greve. Eu ouvi-os, tirei notas e eles próprios escreveram pelo seu punho qual é o seu posicionamento e fui transmitir as opiniões de cada um ao Luaty", relata o autor do livro Diamantes de Sangue, em contacto telefónico a partir de Lisboa.

Rafael Marques adiantou que, excepto Nelson Dibango, que escreveu na nota que "se o Luaty continuar com a greve de fome ele entrará novamente em greve de fome", depois de já ter cumprido dez dias, "todos os outros são unânimes e até diziam que se tivessem essa permissão iriam à clínica 'e pedir de joelhos'" para Luaty desistir, "porque precisam dele vivo e com saúde e de gizar estratégias" todos juntos.

"Nós não estamos aqui a falar de pessoas que estão a fazer pressão para que ele cesse a greve de fome. Estamos a falar daqueles com quem ele compartilha ideias e por quem ele está a sofrer e por quem ele quer continuar a sofrer — que são estes bravos jovens que continuam detidos", frisou Rafael Marques, também alvo de um processo judicial em Angola.

O jornalista e activista recebeu autorização por parte das autoridades angolanas para falar com todos os detidos, incluindo Luaty Beirão, que se encontra internado na Clínica Girassol, em Luanda, e que manifestou na quarta-feira vontade em continuar a greve de fome no Hospital Prisão de São Paulo, onde se encontram os 14 companheiros, considerados como "prisioneiros de consciência" pela Amnistia Internacional.

"Por uma questão humanitária, tive a permissão para falar com todos os detidos e também para abordar algumas questões relacionadas com a segurança e com as condições carcerárias destes. Penso que é importante reconhecer este gesto e continuar a trabalhar, para que, apesar de termos posições diferentes e na maioria das vezes antagónicas, possamos compreender que estamos a falar do direito à vida", concluiu Rafael Marques.