Como fazer renascer os Heróis da televisão quase dez anos depois

Jack Coleman, o Noah Bennet de Heroes, regressa para a mini-série Heroes Reborn, que estreia esta segunda-feira. “Isto não é uma digressão de nostalgia”, diz ao PÚBLICO. “É um mundo paranóico, grande e complicado” este, o das pessoas normais com poderes.

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Jack Coleman DR/NBC
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O elenco de Heroes Reborn DR/NBC
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O elenco original de Heroes DR/NBC

Na temporada de 2006-2007, uma série parecia fadada ao sucesso e a tornar-se sinónimo da vitalidade do momento da televisão dos EUA: um elenco multirracial, várias línguas, países, fios narrativos ambiciosos e uma lança no rentável território dos superpoderes. Christopher Nolan pegava em Batman, o Homem-Aranha ainda era Tobey Maguire e o Super-Homem era ressuscitado. Na TV havia Perdidos, Dexter, Friday Night Lights ou 30 Rock e Heroes chamava dezenas de milhões de espectadores em todo o mundo. Quatro anos depois, era um flop. Esta segunda-feira, os heróis renascem na televisão portuguesa.

Criada por Tim Kring, Heroes chegou a ser uma das séries mais populares de há uma década, mas quando chegou ao fim nos EUA só cerca de quatro dos 16 milhões de espectadores que a viam no início a acompanhavam e as críticas eram desoladoras. Perdera a frescura, ganhara confusão, perdia-se nas histórias. Agora, e depois da estreia de um duplo episódio na semana passada nos Estados Unidos, chega ao canal SyFy Heroes Reborn (22h10 no Meo, Nos e Vodafone), uma “mini-série acontecimento” de 13 episódios “que tem princípio, meio e fim”, como frisa imprensa fora o seu criador – que jurara não ser leitor de BD e que foi criticado no passado pelos paralelos com a saga Marvel dos X-Men.

Ao telefone a partir de Toronto, onde ainda está a filmar os derradeiros episódios de Heroes Reborn, falamos com um par de óculos com aros grossos. Jack Coleman soube por um anúncio no intervalo dos Jogos Olímpicos de Inverno que a série que a NBC cancelara ia voltar. Com ela, soube mais tarde num telefonema com Kring, voltaria a sua personagem conhecida pelos óculos antiquados que usava, os horn-rimmed glasses. “Noah Bennet sempre foi um tecido de ligação entre estas pessoas e mundos”, diz ao PÚBLICO o actor sobre a sua personagem. E Noah era também o vigilante secreto das pessoas-normais-com-poderes, mas sobretudo o pai da chefe de claque loira que por mais que se magoasse, rapidamente se regenerava. Que, no último episódio de Heroes, deixou o mundo num cliffhanger: Claire mostrou-se ao mundo, em directo na televisão, a passar por esse processo e… a série foi cancelada.

A nova mini-série “revisita o mundo de Heroes cinco anos depois”, explica Coleman. “Toda a gente sabe que há pessoas com poderes e há um acontecimento tipo 11 de Setembro cuja culpa é posta nos evos – os evolved humans”, o nome pelos quais passam a ser conhecidos. “São obrigados a esconder-se, são controlados na fronteira, fazem testes de ADN, há leis para a reprodução…”

Há “truthers”, fanáticos com um tom de teoria da conspiração que dizem saber a verdade sobre os evos, a fazer lembrar os truthers do 11 de Setembro ou do local de nascimento de Obama, há movimentos underground e, claro, novos poderes. Uma rapariga, por exemplo, torna a vida, digamos, mais pixelizada. “É um mundo paranóico, grande e complicado” e, continua Jack Coleman sobre a tentativa de Kring de apanhar o ar dos tempos, “há muitos paralelos com o mundo em que vivemos hoje – qual é o objectivo de fazer uma série como esta se não tiver contexto?” Afasta a ideia de “didactismo”, “mas há um ponto de vista em relação a alguns destes temas”.


“Noah escondeu-se, vive uma vida suburbana tranquila. Mas é contactado por um dos conspiradores e percebe que há uma falha na sua memória. E é sugado de novo” para a dura realidade. Falhas de memória em Heroes fazem pensar no silencioso ladrão de recordações Haitian, interpretado por Jimmy Jean-Louis. Noah volta para ser a coluna vertebral da série, ajudado pela narração encantatória de Sendhil Ramamurthy (Mohinder), um dos actores da série original que regressa para Heroes Reborn. O haitiano também retorna, confirma Coleman, bem como o japonês Masi Oka Hiro, o afável viajante no tempo, a matriarca Angela Petrelli (Cristine Rose), o jovem prodígio Micah Sanders (Noah Gray-Cabey) ou o telepata Matt Parkman (Greg Grunberg). Todos têm participações mais curtas nesta série que ainda está em rodagem por que demora “quase o dobro do que outras a filmar - há muitos locais, acção, efeitos especiais, CGI e algo que nunca vimos em televisão”, provoca Jack Coleman. Um dos novos rostos é o de Zachary Levi (Chuck).

Heroes Reborn tem o peso da representação – de uma série que foi tão bem recebida no início e que terminou com um encolher de ombros, e de uma série que regressa para um mundo onde até já há quem se queixe de que há demasiada televisão, e da boa, com narrativas desafiantes e cada vez mais risco nos temas. As críticas nos EUA aos primeiros dois episódios são cautelosas. “Há sempre uma pressão porque todos esperam que seja como a primeira temporada. Não é a primeira temporada, nunca poderá ser porque, como costumo dizer, só há um primeiro beijo”, responde Jack Coleman, deixando ainda assim no ar que sentiremos ”muitos ecos da primeira temporada”.

Sobre a nova concorrência no velho meio que é a televisão que já se faz e consome de tantas outras maneiras, frisa: Heroes “é reborn de muitas maneiras - contamos histórias sobre novas personagens, há elementos antigos mas isto não é uma digressão de nostalgia, é um mundo completamente novo. O que traz para a cena actualmente é a sua escala internacional e o foco intenso nas pessoas”, diz sobre a mini-série que Kring quer que seja mais condensada e acelerada. 

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