Militares franceses suspeitos de abuso sexual de crianças na República Centro-Africana

Um responsável do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos foi suspenso por ter transmitido relatório sobre o caso às autoridades francesas.

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A missão Sangaris envolveu no total cerca de 2000 efectivos ERIC FEFERBERG/AFP

Militares franceses enviados para a República Centro-Africana estão a ser investigados por suspeita de violação de crianças. A procuradoria de Paris abriu um inquérito preliminar em Julho de 2014, depois de o ministério da Defesa lhe ter remetido um relatório das Nações Unidas sobre o caso, disse à agência AFP fonte judicial.

“O inquérito está em curso, não temos comentários a fazer”, limitou-se a declarar à Reuters um porta-voz do ministério francês da Justiça. O ministério da Defesa disse, segundo o diário Le Monde, que o exército tomou as “medidas necessárias para o apuramento da verdade”.

A investigação diz respeito a suspeitas de abusos que terão sido cometidos entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014 num centro de deslocados, no aeroporto M’Poko, de Bangui. Segundo jornal britânico The Guardian, investigadores das Nações Unidas recolheram testemunhos de rapazes que acusaram soldados franceses de terem abusado sexualmente deles, oferecendo-lhes em troca comida e dinheiro. Um dos rapazes tinha nove anos.

O caso já teve efeitos colaterais: o jornal britânico noticiou que um responsável das Nações Unidas, Anders Kompass, director de operações de campo do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, foi suspenso, por ter quebrado as regras internas e ter transmitido às autoridades francesas um relatório interno sobre os alegados abusos. Fontes conhecedoras do caso disseram que Kompass, sueco, veterano com mais de 30 anos de trabalho humanitário, terá tomado a iniciativa devido à inacção dos serviços do Alto-Comissariado.

O porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, confirmou, segundo a AFP, a suspensão de um responsável, sem o identificar, e justificou a medida com o desrespeito dos procedimentos internos. Disse que do relatório transmitido oficiosamente às autoridades francesas, sem conhecimento dos superiores hierárquicos, não foram retirados os nomes das vítimas, testemunhas e investigadores, o que os poderia “colocar em perigo”

Em Dezembro de 2013, com um mandato das Nações Unidas, a França deslocou um primeiro contingente de 1200 soldados para o país africano, numa acção destinada a apoiar uma força panafricana incapaz de conter a espiral de violência sectária. Depois de massacres da coligação Séléka, que aceleraram o envio da força francesa, viriam a ocorrer  perseguições das milícias anti-balaka, predominantemente formadas por cristãos, movidas por sentimentos de vingança.

A chamada missão Sangaris envolveu no total cerca de 2000 efectivos. Já este ano foi reduzida a 1700 soldados, passando progressivamente as suas tarefas para a Minusca, força das Nações Unidas que começou a actuar em Setembro de 2014.


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