Morreu o antigo ditador do Haiti Jean-Claude Duvalier

Durante três décadas, os Duvalier - "Papa Doc" e "Baby Doc" - governaram através de um regime de terror.

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Jean-Claude Duvalier em 2011, quando regressou ao Haiti Lee Celano/Reuters

O antigo ditador haitiano Jean-Claude Duvalier, conhecido por "Baby Doc", morreu este sábado em Port-au-Prince, de ataque cardíaco. Tinha 63 anos.

Jean-Claude Duvalier tinha 19 anos quando herdou do pai o cargo de Presidente vitalício do Haiti, em 1971 – e por isso ficou conhecido por “Baby Doc”. Manteve-se no poder até 1986, ano em que foi deposto por uma revolução popular. Em 2011, regressou ao Haiti depois de passar 25 anos no exílio, em França, dizendo que pretendia ajudar o país a recuperar do terramoto que o devastou em 2010.

No regresso, foi acusado pelos crimes de corrupção, abuso de poder e repressão: os dois Duvalier governaram desde a década de 1950 através de um regime de terror. “Baby Doc” rejeitou as acusações de corrupção e crimes contra a humanidade contra si, e insistiu que o seu regime de 15 anos no Haiti foi “democrático” (e também que o seu abandono do país fora voluntário e não forçado por uma revolução).

Aliás, numa entrevista exclusiva à Univisión, no início de 2011, “Baby Doc” referiu-se a si próprio como “a pessoa que introduziu o processo democrático no Haiti”. “Quando falam de mim como um tirano dão-me vontade de rir”, confessou Duvalier.

“Dá ideia que as pessoas sofrem de amnésia e esqueceram as circunstâncias em que saí do Haiti”, prosseguiu o antigo Presidente, que nunca se submeteu a eleições. “Eu deixei o país voluntariamente, para evitar um grande desastre e facilitar uma resolução pacífica para a crise”, declarou.

Em Fevereiro do ano passado compareceu, pela primeira vez, perante a Justiça que ordenou então uma investigação a crimes contra a humanidade por ele cometidos. Não foi julgado, com os seus advogados a argumentarem com o seu debilitado estado de saúde. Baby Doc nunca respondeu às perguntas sobre o papel das temíveis milícias Tontons Macoutes no seu governo. A organização paramilitar terá sido responsável por mais de 30 mil mortes, segundo as organizações internacionais.

Duvalier também nunca forneceu explicações sobre a sua extensa fortuna na Suíça, que foi congelada em 2011 na sequência de nova legislação aprovada no Haiti. Na mesma entrevista de 2011, "Baby Doc" rejeitou que seis milhões de dólares que estavam numa conta congelada pelas autoridades helvéticas tivessem sido desviados por si dos cofres do Estado. Esse dinheiro, esclareceu, pertencia a uma organização de caridade fundada pela sua mãe – e ele não podia estar “mais satisfeito” com a iminente devolução desse montante ao Governo do Haiti, que assim poderia canalizar essas verbas para a reconstrução da capital Port-au-Prince, devastada por um violento terramoto em 2010.


 

   

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