Se fossem todas assim...

No papel, "Poderá Ser Amor?" é mais uma comédia romântica entre opostos que se atraem que segue todas as fórmulas do género. Um executivo de uma empresa de tecnologia que vive para o trabalho conhece a ceramista que contratou para fazer uma peça para o átrio da sede, que é uma mocinha teimosa que não manda dizer as coisas por ninguém.

Começam por embirrar, mas ele é seduzido por ela não ser uma yes-woman e decide-se a conquistá-la. Só que é aqui que Pierre Jolivet introduz o "pauzinho na engrenagem" que complica as coisas e marca a diferença: Lucas decide pôr Elsa sob vigilância do detective que dirige a sua segurança para se assegurar que ela não é uma espia enviada pela concorrência.

O que transforma esta comédia aparentemente convencional num exercício na corda-bamba que contrapõe o nosso mundo cada vez mais ancorado nas tecnologias que supostamente nos aproximam mas apenas nos afastam ao calor da emoção e da verdadeira humanidade, e onde o "herói" tenta mascarar a sua falta de confiança em si mesmo e nos que o rodeiam investigando o seu interesse amoroso para garantir que não existem problemas no seu passado.

E mais espantoso ainda é que, ao mesmo tempo que mantém a carburar este subtexto da "sociedade da vigilância", Jolivet consiga - com a ajuda inestimável de Sandrine Bonnaire e Vincent Lindon a carregar no "charme" e François Berléand a servir de "comic relief" com uma elegância extraordinária - assinar uma comédia elegante, leve, despretensiosa. A comédia romântica é um género difícil e há muito que não víamos uma tão borbulhante como "Poderá Ser Amor?"; porque é que não podem todas ser como esta?

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