Cepticismo ético

O pessimismo de John le Carré, cuja novela John Boorman adapta, está junto da irrisão 007. E Pierce Brosnan está no filme para reforçar a amargura: é um espião ao serviço de Sua Majestade que recruta no Panamá um alfaiate na crença de que esse homem que veste os altos dignatários do país tem o perfil ideal de informador. Ora, Pierce não está ao serviço de nenhuma ideologia - a não ser a dos dólares. O cinismo neste caso nem sequer é fachada. Quanto ao alfaiate, é um pobre ex-presidiário que vive de inventar histórias. Ninguém é o que aparenta ser e, de "bluff" em "bluff", quase que se desencadeia uma guerra. "O Alfaiate do Panamá" é um cínico jogo de máscaras, que não pode deixar de evocar "O Americano Tranquilo" de Mankiewicz, baseado em Graham Greene, outro relato sobre os desastrosos, e mais ou menos bem intencionados, voluntarismos imperialistas nos chamados países menos desenvolvidos. Mas é também um divertimento. É um "old fashioned" filme - pelo seu nostálgico anacronismo formal (consciência de que pertence a um passado que não volta mais) e pelo seu cepticismo ético.

Sugerir correcção
Comentar