António-Pedro Vasconcelos foi, em tempos, o detendor do recorde de bilheteiras para um filme português: "O Lugar do Morto". Outros tempos, um sucesso inexplicável. Depois disso, muita coisa mudou, e hoje os números das bilheteiras de um filme português são bem mais explicáveis: publicidade televisiva, "fait divers", "a SIC recomenda", como diz o anúncio. É curioso, por isso, ver o regresso de Vasconcelos, com "Jaime", tentando fazer, como programa, aquilo que, sem o querer, conseguiu com "O Lugar do Morto". História de miúdos no Porto ? recorde-se, foi no Porto que Manoel de Oliveira fez a obra-prima "Aniki Bóbó" ? "Jaime" mistura um pouco de tudo: retrato/denúncia de uma situação social (o trabalho infantil), melodrama familiar (um adolescente tenta reunir os pais separados) e ? o mais interessante ? a possibilidade da desrealização (o "cenário" que rodeia a mãe de Jaime podia existir num musical). Há alguns fulgores da parte dos jovens intérpretes mas o saldo final é um filme de compromissos vários de um cineasta que já não filmava há vários anos, que faz um cinema "frágil", de sentimentos, mas que aqui tenta desajeitadamente apanhar um combóio ? o da empatia do público com as personagens e o das histórias dos filmes que a SIC aconselha ? que é a imagem do seu discurso sobre a "indústria" mas tem pouco a ver com os afectos cinematográficos que assume.
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