Morreu Vasco Branco, um amador de cinema e de outras artes

Cineasta amador, pintor e escritor aveirense morreu no Porto, aos 94 anos.

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Em 1963, Vasco Branco recebeu uma menção especial do júri do cinema amador do Festival de Cannes

Vasco Branco, cineasta amador, pintor, ceramista, escritor e professor, morreu sexta-feira no Porto. O funeral realiza-se este sábado, às 16h30, na Igreja da Misericórdia de Aveiro, cidade onde nasceu a 27 de Setembro de 1919 e onde viveu e exerceu a sua actividade profissional.

Especialmente conhecido pela sua produção como cineasta amador nos diferentes géneros de ficção, documentário e animação, Vasco Branco cultivou muitas outras artes e ofícios. A sua biografia artística começa, de resto, pela pintura, tendo realizado a primeira exposição em 1945, em Aveiro. Dois anos depois, inicia colaboração com a revista Mundo Literário, que tinha sido lançada por Jaime Cortesão e Adolfo Casais Monteiro. O primeiro livro, Telhados de Vidro, surge em 1952, mas o cume da sua criação literária acontece em 1979, com o Grande Prémio de Ficção da Associação Portuguesa de Editores atribuído ao romance Os Generosos Delírios da Burguesia, depois publicado pela Moraes Editores (1980).

Aquando da homenagem prestada a Vasco Branco, em 1996, pela Câmara Municipal de Aveiro, com uma mostra da sua obra cinematográfica, o crítico e ensaísta de cinema F. Gonçalves Lavrador (um dos fundadores do Cineclube do Porto, em 1945, e do Cine-Clube de Aveiro, uma década depois) escreveu: “Na multímoda actividade artística e intelectual de Vasco Branco, a criação cineástica não desempenhou um papel dos mais importantes. Foi exercida nos intervalos de descanso de outros trabalhos a que se dedicava com mais empenho porque, aparentemente, pelo menos, os considerava mais importantes”.

E F. Gonçalves Lavrador enumera a actividade de “contista, novelista, romancista, articulista de diversos jornais e revistas”, ao lado da pintura e outras obras plásticas, além das “tarefas, igualmente criativas, de ceramista”. Mas admite também que Vasco Branco se dedicou, em alguns dias, “com algum entusiasmo, ainda que passageiro, ao cinema, não apenas como cineasta, mas também no campo da divulgação cultural, da participação na defesa do cinema como arte e no fomento dum público culto e consciente”.

Esta actividade cinematográfica haveria de materializar-se, entre 1958 (ano do seu primeiro filme, O Bebé e Eu) e 1984 (O Colégio de Gaia), na realização de meia centena de títulos. Muitos deles valeram-lhe sucessivamente prémios em festivais nacionais e internacionais, destacando-se o conquistado em 1960 no concurso internacional UNICA, pelo filme Circo e Etc. – que F. Gonçalves Lavrador considera a sua “obra-prima no campo da animação, com o ritmo característico e bem marcado, o seu humor inteligente e a sua poesia ingénua” –, e também a menção especial do júri do cinema amador num festival de cinema independente em Cannes (1963) para O Espelho da Cidade, distinção que o levaria a ser convidado para presidir ao júri dos cineclubes na edição seguinte do mesmo festival francês.

Vasco Branco viria também a integrar os júris do Cinanima (1980 e 85) e do Festival de Cinema de Língua Portuguesa em Aveiro (1984 e 88). Paralelamente, foi co-fundador, no início da década de 1970, do grupo AveiroArte, e leccionou cinema e cerâmica.
 

Notícia actualizada com correcção dos dias da morte e do funeral e na referência ao festival de cinema independente de Cannes.

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