Violência nas eleições mata 18 pessoas no Bangladesh

Queimados vivos, espancados até à morte, atingidos por tiros da polícia, a votação deixou um rasto de mortos no Bangladesh.

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Partidários do Jamaat-e-Islami batem em membros do Partido Nacionalista do Bangladesh, de Khaleda Zia REUTERS
Dia de eleições em Dhaka: autoridades impuseram restrições À circulação de veículos por razões de segurança
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Dia de eleições em Dhaka: autoridades impuseram restrições À circulação de veículos por razões de segurança Roberto Schmidt/AFP

O boicote das eleições deste domingo e a violência associada deixou 18 mortos no Bangladesh, mais um dia de violência num país por causa de uma crise política que não abranda. “Não quero saber das eleições, só da minha segurança”, diz habitante da capital.

A oposição apelou a um boicote e os seus apoiantes incendiaram mais de 200 assembleias de voto em protesto por, pela primeira vez desde 1991, não ser uma autoridade neutra e provisória a encarregar-se das eleições. O Governo alega que já não há necessidade desta comissão e realizou as eleições de qualquer modo.

Medo da violência e protesto levaram a uma baixa participação. O jornal britânico The Guardian contactou várias assembleias de voto na capital e concluiu que a participação teria andado pelos 10%.

Em Dhaka, muitas pessoas já não querem saber da votação, mas preocupam-se com a violência que tem marcado o dia-a-dia da capital no impasse entre os dois principais partidos, liderados por duas mulheres que têm alternado no poder nas últimas duas décadas.

“Eu, e muitos outros como eu, já não queremos saber das eleições”, disse Nabila, da capital, à emissora britânica BBC. “O que me preocupa agora é a segurança da minha vida”, continuou. Apesar da forte presença militar nas ruas, continuava a haver mortos – por tiros da polícia leal ao Governo, por explosões de cocktails Molotov atirados por opositores. “Tantas pessoas morreram, muitas queimadas vivas dentro de autocarros. Que tipo de pessoas somos?”, insurgia-se. “Cada vez que entro num autocarro tenho medo que seja incendiado”, confessa a estudante. “Nunca tive tanto medo na minha vida.”

Tudo isto por um impasse entre os partidários da primeira-ministra Sheikh Hasina e da líder do principal partido da oposição, Khaleda Zia, que diz estar sob prisão domiciliária desde Dezembro, o que as autoridades negam.

De qualquer modo, há muitas dúvidas sobre as eleições, e Estados Unidos e União Europeia nem sequer enviaram observadores.

“Por que falamos de eleições, se há poucas pessoas nas mesas de voto e os dois candidatos são do mesmo partido?”, perguntou a um repórter da agência francesa AFP o comerciante Miyamat Ullah.

“As eleições não vão resolver nada”, comentou Ataur Rahman, professor de ciência política na Universidade de Dhaka, à agência britânica Reuters. “Tudo vai continuar exactamente na mesma porque ambas as líderes vão continuar a evitar um diálogo com significado, e isso é a única coisa que pode fazer acabar a crise”.

“É preciso acabar com as mortes de civis inocentes”, diz a estudante Nabila. “É isso que pedimos a todos os partidos e políticos do Bangladesh. Eles não são donos das nossas vidas.”

Mahmoud, de Sylhet, no nordeste do país, disse à BBC que em cinco horas e meia apenas três pessoas votaram na sua assembleia. A sua família não vai votar - como protesto contra o Governo, mas sem apoiar a oposição. "A maior parte das pessoas não fazem ideia do que vai acontecer depois de hoje. Mas temos uma certeza: vai ficar pior."

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