Escândalo de corrupção obriga Erdogan a deixar cair três ministros

Ministro do Ambiente pede ao primeiro-ministro que faça deixe o cargo. A crise política arrisca-se a partir ao meio o partido no poder.

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Caglayan aplaude Erdogan no aeroporto de Ancara Umit Bektas/Reuters

Dois ministros muito próximos do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, demitiram-se esta quarta-feira por causa do escândalo de corrupção que abriu uma crise política na Turquia. Os dois dizem-se inocentes – são os seus filhos os suspeitos no processo de fraude – e explicam ter-se afastado para ajudar a “expor uma conspiração repugnante”. Um terceiro bateu com a porta e pediu a Erdogan que se demita.

Os filhos do ministro do Interior, Muammer Güler, e da Economia, Zafer Caglayan, estão detidos desde sábado. São suspeitos de corrupção, fraude e branqueamento de capitais em vendas de ouro e transacções financeiras entre a Turquia e o Irão. Ao todo, 24 pessoas, muitas ligadas ao AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), no poder desde 2002, estão detidas em duas investigações paralelas: o segundo caso tem a ver com pagamento de luvas em concursos públicos de construção.

“Deixo o meu posto para que se possa fazer luz sobre esta ignóbil operação que visa o nosso Governo”, disse Caglayan num comunicado.

Quando estes ministros anunciaram a sua decisão havia ainda outros dois que se sabe estarem a ser investigados por suspeitas ligações a estes escândalos, o ministro do Ambiente, Erdogan Bayraktar, e o dos Assuntos Europeus, Egemen Bagis. Bagis era considerado como um possível sucessor de Erdogan à frente do AKP e do Governo pós-islamista. Entretanto, Bayraktar demitiu-se e não teve palavras doces para o primeiro-ministro.

Quando anunciou a sua partida do Governo, horas depois das demissões dos colegas, o ministro do Ambiente denunciou “pressões” do chefe de Governo para se demitir. “De facto, creio que o primeiro-ministro se deveria demitir também”, disse Bayraktar.

“O apelo de um ministro a pedir ao primeiro-ministro que se demita é um acontecimento sem precedentes. Isto provocou uma onda de choque no AKP”, comentou Deniz Zeyrek, chefe de redacção do diário liberal Hürriyet.

Erdogan e os seus não se cansam de repetir a tese da conspiração. “Aos que continuam a atirar-nos pedras, não tombaremos. Vamos continuar no caminho que consideramos o correcto”, disse, o chefe do Governo na terça-feira à noite, em Ancara, no regresso de uma viajem ao Paquistão. “A Turquia tem orgulho em ti”, gritaram os apoiantes que o esperavam no aeroporto.

Sem nomear o alvo das suas críticas, Erdogan está permanentemente a referir-se a Fethullah Gülen, o imã que lidera uma rede global de escolas e instituições de caridade com milhões de seguidores e que o AKP acusa de estar por trás deste caso. Gülen já foi um grande aliado de Erdogan e tem gente próxima na justiça e nos serviços secretos: o procurador de Istambul que está a liderar a investigação de corrupção, Zekeriya Oz, é uma dessas pessoas.

Gülen e Erdogan têm-se vindo a afastar; recentemente o imã ficou furioso com uma medida do Governo, que decidiu encerrar as escolas privadas de preparação para os exames de aceso à universidade que garantiam parte do financiamento do Hizmet (Serviço), o movimento de Gülen. Agora, trata-se de uma guerra fratricida que terá consequências na política do país.

As eleições municipais estão marcadas para 30 de Março e os analistas esperam que Gülen apoie candidatos contra os políticos do AKP. Esta ida à urnas é muito importante para Erdogan, que no Verão deverá tentar eleger-se como Presidente, um cargo que pela primeira vez será escolhido por voto universal directo.
 
 

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