"Há corrupção em todo o lado", gritaram milhares na rua contra Erdogan

Manifestações voltaram a Istambul e primeiro-ministro turco promete "partir os braços" aos seus rivais políticos.

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Dezenas de milhares de pessoas reuniram-se para protestar contra a "pilhagem" OZAN KOSE/AFP

Enquanto o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, dá mais sinais de querer punir os polícias que investigaram a corrupção relacionada com a agência para o desenvolvimento do parque habitacional, que envolve os filhos de dois ministros, voltaram às ruas manifestações de protesto contra o Governo.

“Há corrupção em toda a parte, há subornos em toda parte”, gritavam os manifestantes que no domingo se juntaram em Kadikoy, em Istambul, relata a BBC. A polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os manifestantes.

“Dezenas de milhares de pessoas reuniram-se para protestar contra a ‘pilhagem’, como diziam, e envolveram-se em confrontos com a polícia, mas não de forma tão brutal como durante os protestos da Praça Taksim em Junho”, escreveu Murat Yetkin, director do jornal em língua inglesa Hürriyet Daily News. Afinal, sublinha, “o chefe da polícia de Istambul é um dos que foram afastados na purga” ordenada por Erdogan em resposta à investigação deste caso de corrupção. Isto porque na polícia e nos serviços judiciais trabalham muitas pessoas ligadas à rede do imã Fethullah Gulen, que até agora era um apoiante fundamental do primeiro-ministro, mas que rompeu de forma espectacular com Erdogan.

O caso envolve quatro ministros (e no caso dos do Interior e da Economia, os seus filhos), o director de um importante banco estatal, o Halkbank – em cuja casa a polícia terá encontrado 4,5 milhões de dólares escondidos em caixas de sapatos, diz a AFP –, e outras figuras gradas, incluindo um empresário iraniano casado com uma cantora turca, suspeito de ter feito transferências de fundos ilegais entre a Turquia e o Irão, apesar das sanções em vigor contra Teerão. Até agora, foram emitidas acusações contra 24 pessoas, mas foram também afastados mais de 30 dirigentes da polícia – e Erdogan promete “partir os braços” aos seus adversários políticos.


Este foi o primeiro confronto nas ruas do que tem sido uma guerra entre duas forças poderosas na Turquia: o primeiro-ministro e Fethullah Gulen, um poderoso imã turco que vive nos Estados Unidos desde 1999. Gulen tem sido uma voz poderosa para a construção da sociedade islâmica mas laica da Turquia moderna, através da sua rede de escolas, instituições de caridade e empresas de media. Mas os dois homens entraram em ruptura este ano. A forma como Erdogan respondeu aos protestos de Junho foi determinante, mas a machadada final foi a decisão do primeiro-ministro em fechar as escolas de preparação para os exames universitários, muitas delas exploradas pela organização de Gulen.

A resposta do Governo a este caso de corrupção tem sido um maior fechamento sob si próprio: os jornalistas foram proibidos de entrar nas esquadras de polícia e foi emitido um decreto que obriga os chefes de polícia a notificar os seus superiores de todas as investigações iniciadas pelos procuradores – como não existe uma polícia de investigação na Turquia, o Ministério Público usa os agentes da polícia nos inquéritos.

Erdogan encara a investigação de corrupção relacionada com a Agência de Desenvolvimento Habitacional – conhecida pelas iniciais TOKI – como um golpe dirigido ao coração do seu poder, e é assim que os observadores políticos o vêem. Apesar de já ter construído muito mais de meio milhão de prédios desde 2003 e de ter concedido mais de seis milhões de licenças de habitação, a TOKI não presta contas públicas. “Esta agência responde apenas ao primeiro-ministro, por isso não sabemos grande coisa sobre as suas contas”, escreveu o analista Emre Deliveli no Hürriyet Daily News.

 
 
 

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