Sigmar Gabriel: de derrota em derrota até à vitória

A carreira política do líder social-democrata, novo número 2 do Governo alemão, é feita de altos e baixos.

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Sigmar Gabriel fez uma jogada arriscada e ganhou Patrik Stollarz/AFP

Sigmar Gabriel arriscou e ganhou. Com um referendo interno à grande coligação, ganhou muito mais força negocial do que teria sem esta consulta para impor medidas sociais-democratas aos seus futuros parceiros democratas-cristãos, e consolidou a sua liderança dentro do SPD, onde de momento não tem rival. A emissora Deutsche Welle diz no título do seu perfil em inglês: “Losing his way to the top”, referindo-se à sua capacidade de transformar derrotas em vitórias.

Agora, vai arriscar de novo: está encarregado de um superministério da Economia que também tem a cargo a mudança energética, em que o país deixará de produzir energia nuclear e ficará dependente de outras fontes.

Membro do SPD desde a juventude, próximo do antigo chanceler Gerhard Schröder e seu crítico, Gabriel, 54 anos, teve já vários altos e baixos na sua carreira política. Formado em língua alemã, política e sociologia, foi professor de gramática e também numa escola de formação para adultos.

Sbstituiu o sucessor de Gerhard Schröder, o antigo chanceler, à frente do governo do estado-federado da Baixa Saxónia, onde se manteve desde 1999 até 2003. Mas perdeu as eleições de forma tão desastrosa para o SPD que Schröder lhe deu um cargo à altura do desempenho eleitoral: representante para a cultura e discurso pop.

Em 2005, dá-se nova reviravolta: é escolhido para ministro do Meio Ambiente na grande coligação CDU-SPD de 2005 e 2009. Vem daí a sua cumplicidade com a actual chanceler, Angela Merkel, que também tinha sido ministra desta pasta. No entanto, a relação entre os dois azedou quando Gabriel fez chegar à revista Der Spiegel uma longa carta detalhando as razões pelas quais apoiava o nome de Joachim Gauck para Presidente, quando Merkel tinha em mente outro candidato. Pressionada pelo seu aliado na coligação, o Partido Liberal Democrata, e pela oposição, Merkel teve de aceitar Gauck.

Em 2009, com a grande derrota eleitoral do SPD, com Frank Walter Steinmeier como candidato, Gabriel aproveita o vazio e apresenta-se como candidato à liderança – foi rapidamente escolhido, lembrava o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung. Nas últimas eleições, o SPD escolheu como candidato Peer Steibrück, que prontamente assumiu o mau resultado como seu. Gabriel, comenta a imprensa, falou de uma responsabilidade colectiva do partido, e foi também com a decisão de dar poder aos membros do partido para aceitarem ou não o resultado da liderança com a CDU de Merkel que não só dividiu responsabilidades como se fortaleceu como líder.

Na vida pessoal, Gabriel confessou no ano passado ao jornal Die Welt que o seu pai, com quem não falava há muito, tinha sido apoiante nazi e até à sua morte apoiou o movimento e partilhou teses revisionistas. A confissão foi feita depois da morte do pai. De resto, foi pai há dois anos do seu segundo casamento com uma dentista, que conheceu numa urgência hospitalar. Tem uma filha com 20 anos do primeiro casamento.

Há quem diga que de vez em quando o seu lado de professor sobressai quando fala em público. Nas últimas semanas, tem feito uso das capacidades oratórias para convencer os militantes a aprovarem o acordo com a CDU, sublinhando que várias medidas emblemáticas de esquerda estavam previstas no programa de Governo.

Num destes discursos, o líder do SPD garantiu aos militantes sociais-democratas que Merkel não é a viúva negra que desfaz os seus parceiros de coligação. Diz-se que Gabriel planeia candidatar-se em 2017 contando que não seja Merkel a candidata da CDU. Muito dependerá agora do modo como corre a arriscada transição de energia e a introdução do salário mínimo, que arrisca fazer aumentar o desemprego. E da gestão que o SPD conseguir fazer da gestão da apresentação pública dos sucessos e insucessos, uma das especialidades da chanceler.
 

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