Partido de Kirchner mantém maioria mas perde Buenos Aires

Sergio Massa, peronista dissidente e antigo chefe de gabinete da Presidente, foi o grande vencedor das eleições intercalares na Argentina e posiciona-se como candidato às eleições

Foto
Sergio Massa venceu na província de Buenos Aires Agustin Marcarian/Reuters

O partido da Presidente argentina manteve a maioria absoluta no Parlamento, mas foi derrotado em 12 dos 24 distritos eleitorais do país, incluindo nas cinco mais populosas do país, segundo os primeiros resultados oficiais das legislativas intercalares de domingo. O grande vencedor acabou por ser Sergio Massa, peronista dissidente e antigo chefe de gabinete de Cristina Kirchner, que, ao arrebatar a vitória em Buenos Aires, reforçou as suas credenciais como candidato às presidenciais de 2015.

Uma das consequências mais imediatas destas eleições – em que estiveram em jogo metade dos lugares na Câmara de Deputados e um terço do Senado – é que, apesar de continuar a controlar as duas câmaras, Kirchner não contará com os dois terços dos deputados e senadores necessários para uma eventual alteração da Constituição, sem a qual não pode candidatar-se a um terceiro mandato – uma hipótese muitas vezes falada, ainda que a Presidente insista que não pretende perpetuar-se no cargo.

Mas é de Massa que se fala sobretudo nesta segunda-feira, no rescaldo de eleições que eram vistas como um arranque para a corrida presidencial. O seu Frente Renovador (FR), que junta peronistas dissidentes da corrente kirchnerista, conseguiu 42,6% dos votos na província de Buenos Aires, onde votam mais de dois terços dos eleitores. A Frente para a Vitória (FpV), de Kirchner, não foi além dos 31%, ainda que tanto a Presidente (ausente da campanha por estar a convalescer de operação ao cérebro) como o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, tenham dado o seu apoio inequívoco à campanha liderada por Martín Insaurralde, um autarca de sucesso mas desconhecido do grande público.

Criado há poucos meses, o FR não apresentou listas próprias nas outras províncias, mas a vitória em Buenos Aires é suficiente para catapultar Massa para a frente da corrida às presidenciais de 2015, ainda que o antigo assessor de Kirchner possa não ser visto pelos eleitores como uma alternativa real ao ramo da família peronista que governa a Argentina desde 2003 quando Nestor Kirchner, marido da Presidente, foi eleito, em pleno colapso económico do país. Pela frente nas primárias, deverá ter Scioli, que não esconde o desejo de suceder à Presidente, ainda que a imprensa especule que terá de lutar com outros candidatos pelo favor de Kirchner.

As eleições de domingo foram também um barómetro da acção do Governo, que acusa na sondagem o desgaste do poder e o ressuscitar de velhos problemas económicos – há vários anos que a taxa oficial de inflação ultrapassa os 20% e as empresas queixam-se das políticas proteccionistas do executivo que, além de manter sob forte controlo o valor da moeda nacional e das importações, continua a taxar fortemente as exportações.

“O kirchnerismo vai dizer que ganhou, porque tem mais votos a nível nacional, mas o que conta é a província de Buenos Aires, o que faz com que esta seja uma vitória da oposição e não do Governo”, disse à AFP o politólogo Rosendo Fraga. Apesar de arrebatar a maioria dos votos em 19 províncias, o FpV perdeu as eleições nas cinco mais populosas.

Contudo, a oposição tem ainda um longo trilho pela frente antes de ambicionar a reconquista do poder. Muito fraccionada a nível nacional, a maioria da oposição a Kirchner alicerça a sua influência em bastiões regionais, como as eleições de domingo voltaram a provar: uma outra facção peronista venceu em Córdoba, a segunda província mais populosa; a União Cívica Radical (UCR) do ex-Presidente Raul Alfonsin (1983-89) ganhou em Mendoza; os socialistas lideram a contagem em Santa Fé; e na cidade de Buenos Aires, o quarto maior distrito do país, venceram os conservadores, liderados por Mauricio Macri pelo presidente da câmara e também candidato às eleições de 2015.

A nível nacional, a FpV obteve, segundo os últimos dados, 32,3% dos votos, o que lhe garantiu a eleição de 48 dos 127 lugares em disputa, a uma distância confortável das várias facções dissidentes do peronista (23,8% no total) e da UCR (23,7%).
 

Sugerir correcção
Comentar