Antigo aliado de Milosevic toma posse como novo primeiro-ministro da Sérvia

Foto
"A Sérvia quer ser um factor de paz e de estabilidade na região", garantiu Ivica Dacic Aandrej Isakovic/AFP

O novo Governo de coligação, composto por nacionalistas e socialistas, tomou posse na Sérvia e será liderado por um antigo porta-voz de Milosevic. O novo primeiro-ministro, Ivica Dacic, sublinhou que tem como objectivo acelerar o processo de adesão à União Europeia e pediu aos sérvios para não temerem um regresso ao passado.

Após um debate que se prolongou por 12 horas, o Parlamento sérvio aprovou por 142 votos a favor e dois contra a nomeação do líder do Partido Socialista como chefe do Governo. Ivica Dacic, de 46 anos, foi porta-voz do antigo Presidente Slobodan Milosevic, que foi Presidente da Sérvia entre 1989 e 1997, liderou depois a Jugoslávia até 2000 e morreu em 2006 numa cela do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, em Haia, onde estava a ser julgado por crimes de guerra e contra a humanidade.

Pela primeira vez desde o derrube de Milosevic, há doze anos, os reformistas voltaram à oposição. O novo Governo é dominado pelo Partido do Progresso do nacionalista Tomislav Nikolic, cuja eleição, a 6 de Maio, foi recebida com reservas na União Europeia.

“O nosso objectivo é acelerar o processo de integração na União Europeia com o máximo esforço para chegar a uma data para o início das negociações com vista à adesão”, garantiu Dacic no seu primeiro discurso no Parlamento em Belgrado. “A Sérvia quer ser um factor de paz e de estabilidade na região e todas as questões devem ser resolvidas pacificamente”, adiantou, referindo-se à questão do Kosovo, que declarou unilateralmente a independência em 2008 e foi entretanto reconhecido por mais de 80 países mas que a Sérvia continua a considerar uma província sua. O novo primeiro-ministro reiterou que “a Sérvia não irá reconhecer a independência do Kosovo” mas adiantou que o país “irá estender a sua mão à reconciliação com todos”.

A questão do Kosovo é considerada crucial para uma futura adesão à UE da Sérvia, que já obteve o estatuto de candidato, em Março, e Dacic comprometeu-se a cumprir os acordos estabelecidos com as autoridades albanesas em Pristina após negociações mediadas por Bruxelas, no ano passado. “Não continuemos a lidar com o passado, lidemos agora com o futuro”, disse o novo primeiro-ministro aos deputados sérvios.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, conversou com o novo primeiro-ministro sérvio após a tomada de posse e adiantou num comunicado, que assinalou conjuntamente com o comissário europeu para o Alargamento, Stefan Fule, que “a UE espera que o novo Governo da Sérvia mantenha a palavra em matéria de integração europeia, cooperação regional e reconciliação, nomeadamente através da retoma, o mais cedo possível, do diálogo entre Belgrado e Pristina e de uma aplicação rápida dos acordos concluídos”.

O novo Governo de coligação é composto pelo Partido do Progresso, que tem como segunda aliada a formação Regiões Unidas da Sérvia, liderada por Mladjan Dinkin, antigo opositor a Milosevic, que assumirá a pasta das Finanças. Os socialistas liderados por Dacic são o terceiro parceiro.

Internamente, o novo Executivo enfrenta uma grave crise económica e uma taxa de desemprego que ronda os 25%. Terá 19 ministros, dos quais quatro vice-primeiros-ministros, incluindo Aleksandar Vucic, do partido do Presidente, que será também ministro da Defesa. O ministro dos Negócios Estrangeiros será o independente Ivan Mrkic e Susana Grubjecic, do partido Regiões Unidas da Sérvia, será vice-primeira-ministra e terá a seu cargo a pasta da integração europeia.

Dacic procurará conquistar a confiança da UE e já reconheceu que o Partido Socialista que herdou de Milosevic cometeu erros mas, sublinhou a Reuters, ainda se revê no seu mentor que foi acusado por crimes cometidos durante a guerra na Jugoslávia em que morreram cerca de 125 mil pessoas.

Notícia corrigida às 18h10
Sugerir correcção
Comentar