Primeiro-ministro britânico desmente acordos com grupo Murdoch

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Primeiro-ministro foi ouvido durante horas pela comissão Leveson AFP

O primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, desmentiu esta quinta-feira, sob juramento, ter feito qualquer acordo com o império mediático de Rupert Murdoch.

Mas, ao ser ouvido na comissão Leveson, criada para investigar as relações entre media, classe política e polícia, viu-se confrontado com uma mensagem que confirma grande proximidade com Rebekah Brooks, antiga directora da News International – o ramo de imprensa do grupo no Reino Unido.

“Estou a torcer por ti amanhã, não apenas como amiga pessoal mas porque profissionalmente estamos juntos nisto”, dizia a mensagem, que rematava com a expressão “Yes he Cam”. O texto remete para o slogan de campanha conservadora – algo como: “Estamos todos juntos nisto” – e para o título que o Sun fez no dia seguinte a um discurso: “Yes he Cam”. Brooks propunha também ao então líder da oposição um jantar para discutirem um assunto ao diário “Times”.

Cameron disse que a mensagem – enviada a 7 de Outubro de 2009, na noite anterior a um importante discurso que fez à conferência do Partido Conservador – se explica pelo facto de o jornal ter apoiado os conservadores na corrida às eleições de 2010. Reconheceu ser amigo de Brooks, mas considerou “absurda” a ideia de que existiriam “acordos explícitos” com o grupo de Murdoch.

“A ideia de acordos explícitos é absurda. Não dou qualquer crédito à teoria de um acordo secreto”, disse, quando questionado sobre as suas relações com o grupo proprietário, entre outros media, dos jornais “Times”, “Sun” e “News of the World” – este último encerrado no Verão passado após a revelação de que fez escutas a cerca de 800 pessoas para obter informação exclusiva.

Interrogado ao longo de cerca de seis horas, sob juramento e com transmissão televisiva em directo, David Cameron admitiu uma excessiva proximidade com a comunicação social. A audiência perante a comissão Leveson, criada para investigar as relações entre media, classe política e polícia, na sequência do caso das escutas, foi para o chefe do Governo um exercício de justificação.

O primeiro-ministro disse ainda que se o tivessem alertado não teria entregado o dossier da venda da plataforma de televisão BSkyB a Jeremy Hunt, um membro do Governo favorável a Murdoch, que estava interessado mas acabou por desistir da aquisição, na sequência do caso “News of the World”

O primeiro-ministro garantiu ainda que teria despedido Andy Coulson, antigo director do News of the World, que em 2007 contratou como assessor de imprensa, se tivesse provas de que pudesse estar envolvido das escutas. Coulson demitiu-se no início do ano passado e está acusado de falso testemunho no caso “News of the World”.

Cameron manifestou a opinião de que “nos últimos 20 anos, a relação [entre políticos e jornalistas não foi a melhor. Penso que foi demasiado próxima e que devemos tentar mudar para uma base mais adequada”.

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