A união dos partidos na despedida do "doce revolucionário" Miguel Portas

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Miguel Portas será ainda homenageado no domingo no Teatro São Luiz, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

Lutou por uma democracia melhor e defendeu sempre a união, que como chegou a dizer “é sempre melhor do que a divisão”, e na sua despedida teve a justa homenagem. Longe das lutas partidárias e dos palcos políticos, todos, da direita mais conservadora à esquerda revolucionária, passando ainda pela cultura e pelo jornalismo, se quiseram despedir de Miguel Portas, cujo corpo esteve durante a tarde deste sábado em câmara ardente no Palácio das Galveias, em Lisboa. E à porta ficaram ainda centenas e centenas de pessoas.

“É isto que o Miguel nos deixa”, disse ao PÚBLICO Daniel Oliveira, ex-dirigente do Bloco de Esquerda (BE), apontando para as centenas de pessoas que formam uma fila de cerca de 500 metros e que dá a volta ao quarteirão. “Ele juntava as pessoas através da sua capacidade de fazer pontes com as diferentes pessoas e isso nota-se muito aqui, neste carinho.”

Todos querem entrar, alguns apenas por curiosidade, outros para se despedirem do colega e amigo Miguel Portas, que morreu na terça-feira, aos 53 anos, de cancro no pulmão, no Hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia, deixando ainda uma palavra de força e incentivo à família, nomeadamente aos pais Helena Sacadura Cabral e Nuno Portas e aos irmãos Paulo Portas e Catarina Portas, que estão ao lado do caixão fechado, assim como o actual dirigente do BE, Francisco Louçã.

São muitas as flores, que estão espalhadas no salão do Palácio, na sua maioria cravos, lembrando assim o homem que sempre lutou pelos seus ideais. À porta são deixadas mensagens de despedida num livro, que será depois entregue à família. E para os que querem guardar uma última lembrança de Miguel há um postal com uma fotografia dele ainda jovem e com um cigarro na boca. Ao lado, assinado por Miguel Portas, está escrito: "As atitudes têm de servir para algo mais do que conquistar votos ou justificar passados. Têm de ajudar a inventar um futuro em que as pessoas possam crescer não em função do que têm mas do que podem ser. E isso depende de vocês. Felizmente, não depende de mim..."

Também o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, prestou homenagem a Miguel Portas, lembrando que apesar das divergências políticas, o eurodeputado do BE “era uma personalidade muito respeitada por todos”. “Foi um homem de convicções que se bateu com uma intensa actividade cívica desde muito novo”, disse Passos Coelho aos jornalistas.

Daniel Oliveira salientou ainda “o exemplo de coragem brutal que Miguel Portas demonstrou a vida toda”. Ou como lhe chamou Pedro Santana Lopes: “um revolucionário doce”. “Foi uma pessoa que lutou sempre por aquilo em que acreditou mas sempre com educação, classe e determinação”, disse o antigo presidente do PSD, lembrando que “quando se tinha um debate com ele não se ficava exactamente como se tinha começado porque ele fazia as pessoas pensar”. “Todos fazem falta mas há uns que deixam uma saudade especial e o Miguel é um deles”, acrescentou ainda Santana Lopes.

Homem respeitado, corajoso e de convicções foram as palavras que mais se ouviram durante a tarde. De Ramalho Eanes, a Jorge Sampaio, passando por Mário Soares, Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Relvas, Miguel de Sousa Tavares, Vasco Lourenço, Ferro Rodrigues e Fernando Seara. Também os seus colegas eurodeputados Elisa Ferreira (PS), Diogo Feio (CDS) e Rui Tavares, e os deputados Inês Medeiros (PS), Luis Fazenda, Joana Amaral Dias e Ana Drago (BE) e o ex-candidato do PCP à presidência da República António Abreu, fizeram questão de prestar a sua homenagem.

E houve ainda muitos nomes conhecidos do jornalismo, como Mário Crespo ou Judite de Sousa, e personalidades das artes, como o maestro António Vitorino d´Almeida, Camané, Sérgio Godinho ou Pilar del Río.

Por volta das 19h30 as portas foram fechadas e a família pôde finalmente ter um momento privado e despedir-se de Miguel Portas, que seria então cremado. No domingo há uma homenagem pública, às 14h, no Teatro São Luiz.

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