Morreu o arquitecto e designer Daciano Costa

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Um dos seus trabalhos recentes mais conhecidos são os interiores do Centro Cultural de Belém António Pedro Valente/PÚBLICO

O arquitecto e designer Daciano Costa morreu hoje, em Lisboa, aos 75 anos, vítima de doença prolongada. No seu vasto currículo destacam-se trabalhos em áreas como a arquitectura de interiores, design de mobiliário, industrial, de exposições e gráfico, bem como cenografia e figurinos.

Daciano Costa nasceu em Lisboa a 3 de Setembro de 1930, frequentou a Escola de Artes Decorativas de António Arroio e a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Recebeu os prémios Constantino Fernandes e Ferreira Chaves, destinados aos alunos com máxima classificação do curso de Pintura, que entretanto terminou.

Depois de ter frequentado a Escola de Belas Artes, Daciano da Costa começou a sua carreira profissional no atelier de pintura e de arquitectura de Frederico George, desde 1947. A sua colaboração mostrou-se "fundamental na formação da sua sensibilidade e da metodologia que viria adoptar na abordagem do processo de projecto", contou à Lusa o arquitecto João Paulo Martins, que com ele conviveu.

Em 1959 abriu o seu próprio atelier onde desenvolveu actividades no domínio da arquitectura de interiores, design de exposições e industrial. "Daciano da Costa foi um dos protagonistas do processo de definição da Arquitectura de Interiores como disciplina autónoma, estabelecida em relação estreita e orgânica com o projecto de Arquitectura e em substituição da designada Decoração", acrescentou João Paulo Martins.

Em 1961, iniciou uma colaboração com a Metalúrgica da Longra que havia de se prolongar por mais de trinta anos, sendo "uma das experiências mais profícuas de relação da indústria nacional com o design".Daciano da Costa ingressou como docente do Departamento de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1977 e nessa escola se manteve após a sua transformação em Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

Em 1992 iniciou e dirigiu a primeira Licenciatura em Arquitectura de Design, onde leccionou até se jubilar em 2003. Em 2004 recebeu o título de Doutor Honoris Causa desta faculdade pela sua contribuição da sua obra para o desenvolvimento do Design em Portugal. No ano anterior tinha recebido igual distinção pela Universidade de Aveiro.

No ano de 2001, recebeu da Sociedade Nacional de Belas-Artes a medalha destinada aos sócios com mais relevância na vida da instituição, a secção portuguesa da Associação Internacional dos Críticos de Arte conferiu-lhe o prémio anual para a área de Arquitectura.

A Ordem dos Arquitectos nomeou-o sócio honorário em 2002, no ano anterior o Presidente da República tinha-lhe imposto as insígnias de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, condecoração que juntou à de Grande Oficial da Ordem do Mérito, recebida em 1995.

Em 1994, Daciano da Costa publicou o livro "Croquis de Viagem", com uma selecção dos seus desenhos de leitura do ambiente, realizados ao longo de anos de viagens. Quatro anos depois, o Centro Português de Design editou "Design e Mal-Estar", onde foram reunidos muitos dos seus textos de intervenção crítica sobre Design e entrevistas publicadas na imprensa periódica desde 1970.

Em 2003, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais integrou uma parte substancial do arquivo de Daciano da Costa, constituído por esboços, desenhos técnicos e maquetas resultantes da sua actividade projectual até 1994.

Segundo João Paulo Martins, "este espólio, guardado no Forte de Sacavém, está a ser tratado, estudado e digitalizado para futura divulgação".

Dos seus trabalhos destacam-se o projecto de interiores da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa (1961) e a Biblioteca Nacional (1968), Teatro Villaret (1965) e o Casino Estoril (1967).

Outros trabalhos seus são os interiores do Hotel Alvor Praia (1968), do Casino Park-Hotel (1972-84), no Funchal, do Centro Cultural de Belém (1992), a renovação de interiores do Coliseu dos Recreios de Lisboa (1994) e dos Paços do Concelho de Lisboa (1998). Em Dezembro passado tinha apresentado um projecto à Câmara de Lisboa de requalificação da Praça da Figueira, revestindo os edifícios com azulejos em azul e branco.

Daciano Costa era ainda sócio correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes, fundador da Associação Portuguesa de Designers e professor catedrático convidado jubilado da Faculdade de Arquitectura.

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