Relatório Hutton: juiz abre inquérito para apurar fuga de informação

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Blair foi ilibado de quaisquer responsabilidades na morte do cientista David Kelly Andrew Parsons/PA

O juiz britânico Brian Hutton ordenou a abertura de um "inquérito urgente" à fuga de informação que permitiu ao tablóide "The Sun" publicar ontem um resumo das principais conclusões do relatório sobre a morte do cientista David Kelly, horas antes de o documento ter sido oficialmente publicado.

"Este inquérito irá abranger igualmente a forma como o relatório foi transmitido antes da sua publicação aos diferentes membros da equipa do juiz e à gráfica" que os imprimiu, lê-se num comunicado emitido pelo gabinete do magistrado.

Para além desta investigação, o juiz Hutton tinha já ontem comunicado a intenção de processar o mais vendido tablóide britânico.

O relatório, cuja divulgação estava embargada até às 12h30 de ontem, foi entregue com 24 horas de antecedência às partes interessadas — Governo, BBC e a família de Kelly —, para que estas se pudessem preparar para a apresentação feita ao início da tarde pelo magistrado. Ao início da manhã de ontem, o documento foi entregue a seis membros da oposição, entre eles o líder do Partido Conservador, Michael Howard.

No entanto, as instruções do juiz eram claras: quem recebesse o documento tinha de assinar antecipadamente um acordo de confidencialidade e fornecer ao magistrado uma lista das pessoas com quem pretendia discutir o relatório, as quais foram avisadas para não transmitirem a informação a ninguém.

Apesar dos cuidados extremos, o "The Sun" publicou na sua edição de ontem as principais conclusões do relatório, adiantando que o primeiro-ministro tinha sido ilibado de quaisquer responsabilidades na morte do perito em armamento do Ministério da Defesa.

Na manhã de ontem, o primeiro-ministro e a oposição trocaram acusações sobre quem terá sido o autor das fugas de informação, com o Partido Liberal Democrata a afirmar que "elas têm as impressões digitais de um Governo que diz e faz tudo aquilo que é possível para salvar a pele". Blair defendeu-se, afirmando estar "furioso" com a fuga de informação.

Blair volta a exigir pedido de desculpas

Entretanto, Blair voltou a exigir um pedido de desculpas da BBC, depois de o relatório Hutton ter concluído que as notícias publicadas pela estação — em que o jornalista Andrew Gilligan acusava o Executivo de ter "apimentado" um relatório sobre o arsenal iraquiano, a fim de justificar a guerra contra o regime de Saddam — eram "infundadas" e pouco precisas.

O relatório critica também a hierarquia da estação pública por não ter confirmado os dados na posse do jornalista antes de a notícia ter ido para o ar, no programa "Today" da rádio BBC 4, no dia 29 de Maio.

"Continuamos a exigir um pedido de desculpas. A BBC deve pedir desculpas por ter difundido informações falsas", declarou o porta-voz de Tony Blair, acrescentando que "o primeiro-ministro considera que a sua integridade foi posta em causa".

Ontem, o presidente da estação pública, Gavyn Davies, pediu a demissão na sequência do relatório e a BBC pediu desculpas por "certas afirmações" erradas proferidas pelo jornalista Andrew Gilligan. No entanto, recusou pedir desculpas ao primeiro-ministro, afirmando que, ao contrário do que diz o Governo, nunca acusou Blair de ter mentido quando foi ao Parlamento apresentar o relatório sobre as armas de destruição maciça iraquianas.

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