Deixei de ser um homem para passar a encarnação do mal, queixa-se Duarte Lima
Antigo dirigente do PSD volta a negar crimes de burla e branqueamento de capitais durante julgamento sobre transacções de terrenos em Oeiras
Duarte Lima, arguido no processo Homeland, relacionado com um crédito que obteve no BPN para aquisição de terrenos em Oeiras, disse esta terça-feira em tribunal que está "acusado de crimes vergonhosos" que afectam a sua honestidade e a sua honra.
Reafirmando a sua inocência, o antigo dirigente do PSD leu, durante o julgamento, uma exposição na qual afirmou que aquilo que está em causa é a sua vida: "No contexto desta investigação e acusação, e de todo o aparato público, deixei de ser um homem, para passar a ser uma etiqueta, um selo, um carimbo, um símbolo que representava a encarnação do mal. Vivi uma espécie de morte cívica". Duarte Lima assinalou ainda que este processo teve um efeito "destrutivo e devastador" não apenas na sua vida como na do filho, Pedro Lima, também arguido.
Burla qualificada, abuso de confiança e branqueamento de capitais são os crimes pelos quais responde. O caso remonta a 2007, altura em que Duarte Lima, Pedro Lima e um terceiro sócio, Vítor Raposo, constituíram um fundo imobiliário intitulado Homeland para a aquisição dos terrenos em Oeiras, em 2007, nas imediações do local onde esteve prevista a nova sede do Instituto Português de Oncologia. A transferência da unidade de saúde para ali acabou por nunca se concretizar. Nacionalizado em Novembro de 2008, o BPN, que também tinha participação na Homeland, emprestou à sociedade um total de 42.995 mil euros.
"Não posso ser condenado por aquilo que não fiz", argumentou Duarte Lima.
O antigo presidente do grupo parlamentar social-democrata criticou o procurador da República neste processo, afirmando que José Nisa "não foi capaz de se libertar do preconceito" contra o arguido. E deu como exemplo o facto de o magistrado ter usado uma metáfora sobre a caça durante as alegações finais: "[O procurador] disse que se posicionou neste processo como o 'caçador', que furtivamente, vigilante, às vezes como se estivesse no escuro da noite, perscrutando a direcção do vento, atento ao ruído das folhas que caem das árvores, se prepara para capturar a presa -- sendo que a presa sou eu", frisou.
Com conexões com o processo Monte Branco, ainda sob investigação, este caso tem igualmente como seu arguido um dos seus principais suspeitos, o cambista Francisco Canas, conhecido como Zé das Medalhas, que alegadamente transferia dinheiro de clientes seus, como Duarte Lima, para fora do país, para escapar aos impostos.
A próxima audiência do caso Homeland está marcada para 29 de Agosto, para que o colectivo de juízes apresente alteração da qualificação dos crimes imputados aos arguidos, após o que deverá ser agendada a leitura do acórdão.