Crato desconfia dos licenciados nas escolas superiores de educação

Ministro da Educação diz que há falhas no sistema de formação de professores e revela que prova de avaliação de conhecimentos de professores deverá ser repetida em Janeiro.

Foto
O ministro da Educação, Nuno Crato, decretou o fim do modelo das Novas Oportunidades Adriano Miranda

No rescaldo da prova de avaliação de professores, marcado por greves, protestos, boicotes e lágrimas, o ministro da Educação adiantou que o exame deverá ser repetido em Janeiro para os que o quiserem fazer e defendeu que “o que está aqui em causa é o direito dos pais e das famílias a que sejam escolhidos os melhores para serem professores”, justificando que “há escolas com graus de exigência muito diferentes e essa é uma das razões por que a prova é necessária”.

Nuno Crato, que falava numa entrevista na quarta-feira à noite à RTP, disse que ainda falta “recolher os números reais o mais perfeitos possíveis” para marcar uma nova data para a prova que “muito naturalmente será em Janeiro”. O processo, explicou, ficará a cargo do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) e exclui qualquer novo pagamento de inscrição. Quanto a quem saiu a meio da prova, disse que ainda não há decisões tomadas.

Os números avançados pelos sindicatos apontam para que cerca de 6000 professores, perto de metade dos inscritos, não tenham feito a prova de avaliação de conhecimentos e capacidades num dia marcado por greves, protestos, boicotes e lágrimas e em que alguns professores consideraram a prova difícil.

O ministro começou por dizer que respeita o direito à greve mas lamentou ter visto que “uma série de professores foram coagidos a fazer greve”. Da mesma forma, disse que os docentes estão no direito de não querer fazer a prova, mas que as imagens divulgadas a rasgar provas não são “nada dignificantes para a imagem do professor”. Porém, para Nuno Crato este será no futuro apenas um “incidente de percurso”, já que acredita que a prova vai entrar na rotina.

Na mesma entrevista, o titular da pasta da Educação reiterou que a medida é necessária e que “não deve ser vista isoladamente” – já que faz parte de um conjunto de passos que a tutela tem dado para melhorar a escola pública. Recordou que no primeiro trimestre será feita uma prova específica da área de conhecimento do docente (esta era de conhecimentos transversais) e que estão a apostar na formação contínua.

A ideia de Nuno Crato é que no acesso à licenciatura de educação básica passe a ser obrigatório fazer o exame nacional de português e de matemática (ainda que não a mesma que por exemplo para cursos de engenharia) “para garantir que os chumbados ou com uma nota muito deficiente” numa destas disciplinas conseguem ingressar no ensino superior apenas porque vão para uma área diferente.

Foi neste contexto que o ministro defendeu que “o sistema de formação de professores tem várias falhas” e precisa de ver a sua estrutura curricular revista. “Há professores licenciados por universidades e há professores licenciados por escolas superiores de educação que têm características diferentes e critérios de exigência muito diferentes”, disse na entrevista à RTP. "E a sua dúvida incide sobre os licenciados nas escolas superiores de educação?”, questionou José Rodrigues dos Santos, ao que Nuno Crato respondeu: "Neste caso concreto que estou a falar, que é a preparação [de professores], a minha dúvida incide sobre essas entidades [as escolas superiores de educação]".

O ministro sublinhou, depois, que muitas outras profissões “têm após a licenciatura exames e critérios de admissão” e que, por isso, “o Estado, representando as famílias, para elevar a qualidade da escola pública deve recrutar os melhores e fazer um critério de condições mínimas”.

Na sequência destas declarações, que motivaram imediatamente críticas do presidente do Conselho dos Institutos Politécnicos, o Ministério da Educação emitiu uma nota, a defender que Nuno Crato não fez "juízos de qualidade que distinguissem escolas politécnicas por um lado e universitárias por outro": "O Ministério esclarece que o Sr. ministro se referia ao conjunto do sistema de formação inicial de professores, que tem programas curriculares diversos, dizendo que há diferenças entre as diversas escolas de formação de professores, sejam universitárias sejam politécnicas, referindo 'essas escolas' no seu conjunto, e sem fazer juízos de qualidade que distinguissem escolas politécnicas por um lado e universitárias por outro".

"O sr. ministro acrescenta que 'é necessário um conjunto de medidas para assegurar que sejam os mais bem preparados a serem admitidos como professores dos nossos jovens e que o Estado tem como obrigação assegurá-lo, não só promovendo mais exigência na formação inicial de professores, com programas curriculares mais centrados nas matérias que os futuros professores irão leccionar, como também através de um processo de selecção nas contratações iniciais'", acrescenta a mesma nota.

Na sequência de todos os incidentes relacionados com a prova de avaliação de capacidades e conhecimentos a Federação Nacional de Professores (Fenprof) pediu na quarta-feira a demissão do ministro e admitiu continuar judicialmente a contestação à PACC. Os sindicatos de professores disseram também que entregariam um novo pré-aviso de greve se fosse marcada uma nova data.

Notícia actualizada às 13h08 Acrescenta reacção do Ministério da Educação

Sugerir correcção
Comentar