Equilíbrio e autocuidado são as melhores resoluções de Ano Novo, aconselham os especialistas
A nutricionista Ana Bravo, a psicóloga Vera Ramalho, a coach Vera Viegas e o médico Veríssimo Silvestre lembram que, mais do que ser extremista, é preciso mudar comportamentos de forma equilibrada.
É este ano que vai deixar de fumar? Vai perder aqueles cinco quilos a mais? É este ano que se vai dedicar à meditação? Ou é desta que começa a treinar? Com o Ano Novo chega uma lista de resoluções e desejos a cumprir, mas os especialistas em saúde física e mental pedem, na edição da Conversa Ímpar desta quarta-feira, que se estabeleçam metas concretizáveis, sem descurar o autocuidado.
Um novo ano deve começar com uma reflexão, propõe o especialista em medicina geral e familiar da CUF Mafra Veríssimo Silvestre: “Devemos procurar o que correu mal e como vamos colmatar as falhas que fizemos.” Depois dessa reflexão, os erros podem, e devem, começar a ser corrigidos, com ajuda, sempre numa perspectiva de prevenção. “Preocupem-se com a saúde, não se preocupem com a doença”, pede.
Por esse prisma, a psicóloga clínica e cronista do PÚBLICO Vera Ramalho propõe que se façam poucas (mas boas) resoluções e a primeira deverá estar ligada às emoções. É, por isso, crucial naturalizar todos os sentimentos, bons e maus: “As pessoas têm a tendência de se quererem livrar das emoções e o evitamento é a pior coisa que se pode fazer.” Aconselha a aplicar o mesmo às relações com os outros, compreendendo que há dias menos bons, e aproveitando este início de ano para agradecer. “O reconhecimento aproxima-nos dos outros”, acredita.
A psicóloga reforça que é preciso um equilíbrio na gestão emocional, o que nem sempre é simples. Por isso, a meditação e os exercícios de respiração podem ser aliados. Vera Ramalho aconselha, para iniciantes, um pequeno treino diário, a chamada “respiração do quadrado”: inspire lentamente durante quatro segundos e mantenha os pulmões cheios de ar por mais quatro segundos. De seguida, expire lentamente durante quatro segundos e mantenha os pulmões vazios durante mais quatro segundos.
É desse equilíbrio que fala também Veríssimo Silvestre, que destaca o novo ano como o ano em que se deve reflectir sobre o balanço entre a vida pessoal e profissional. Quando se está sob stress permanente, explica, o corpo produz hormonas que o vão danificando. O médico recorda que, biologicamente, estes eram mecanismos de defesa da espécie. “Hoje andamos sempre a correr, não vivemos. Parece que andamos com os tigres atrás de nós”, compara. E apela: “Perdemos toda a saúde para ganhar dinheiro. E com todo o dinheiro que ganhamos não recuperamos a saúde que perdemos...”
Equilíbrio à mesa e no treino
A saúde também começa pelo que se põe à mesa, e a nutricionista Ana Bravo destaca que, mais do que “ser refém de regras alimentares” ou tentar fazer uma desintoxicação, é importante, sim, “mudar comportamentos”. “Para emagrecer, temos de garantir que se mantém o prazer de comer”, sublinha, relembrando que este é um dos pilares da dieta mediterrânica, da qual é adepta.
Ao encontro do autocuidado, a autora de Nutrição com Coração sugere que o momento de preparar as refeições seja como uma meditação: ponha a música de que mais gosta e escolha receitas saudáveis e igualmente saborosas. O objectivo é promover “o bem-estar em torno da alimentação.” Quanto ao que se deve evitar, não existem alimentos proibidos, ainda que os transformados, os enchidos e os produtos de pastelaria sejam de evitar. “Nem sempre nem nunca...”, resume.
E esse mantra aplica-se também ao exercício físico, acredita a coach e fundadora do Movimento Ama-te, Vera Viegas. O projecto, criado a pensar em mulheres, concentra-se no trabalho de força, flexibilização e mobilização, e trabalha o conceito de “disciplina”, aquilo que a coach acredita ser o segredo para o sucesso nos treinos. “Temos de ser consistentes, de preferência com prazer e amor”, sublinha.
Se o novo ano for o ano em que resolve começar a treinar-se, Veríssimo Silvestre lembra que podem ser necessárias algumas avaliações sobre riscos de saúde preexistentes, sobretudo para quem tem mais de 40 anos. O médico também pode aconselhar o tipo de exercício físico mais adequado para cada caso, para que a motivação de fazer mais pela sua saúde não tenha o efeito oposto.
E Veríssimo Silvestre deixa três conselhos finais para incluir nas resoluções de Ano Novo: “Deixe de fumar”, pede, aconselhando a consulta de cessação tabágica, em que o médico poderá ajudar com a medicação correcta; depois, faça uma limpeza à despensa para tirar alimentos desnecessários; e, por fim, pondere o consumo de canabinóides, os quais, a longo prazo, danificam a capacidade de reflexão e podem desencadear outras doenças do foro psiquiátrico.