Equilíbrio e autocuidado são as melhores resoluções de Ano Novo, aconselham os especialistas

A nutricionista Ana Bravo, a psicóloga Vera Ramalho, a coach Vera Viegas e o médico Veríssimo Silvestre lembram que, mais do que ser extremista, é preciso mudar comportamentos de forma equilibrada.

Foto
Um homem corre na zona do Parque das Nações, em Lisboa. Exercício físico está no topo da lista das resoluções de ano novo Nuno Alexandre

É este ano que vai deixar de fumar? Vai perder aqueles cinco quilos a mais? É este ano que se vai dedicar à meditação? Ou é desta que começa a treinar? Com o Ano Novo chega uma lista de resoluções e desejos a cumprir, mas os especialistas em saúde física e mental pedem, na edição da Conversa Ímpar desta quarta-feira, que se estabeleçam metas concretizáveis, sem descurar o autocuidado.

Um novo ano deve começar com uma reflexão, propõe o especialista em medicina geral e familiar da CUF Mafra Veríssimo Silvestre: “Devemos procurar o que correu mal e como vamos colmatar as falhas que fizemos.” Depois dessa reflexão, os erros podem, e devem, começar a ser corrigidos, com ajuda, sempre numa perspectiva de prevenção. “Preocupem-se com a saúde, não se preocupem com a doença”, pede.

Por esse prisma, a psicóloga clínica e cronista do PÚBLICO Vera Ramalho propõe que se façam poucas (mas boas) resoluções e a primeira deverá estar ligada às emoções. É, por isso, crucial naturalizar todos os sentimentos, bons e maus: “As pessoas têm a tendência de se quererem livrar das emoções e o evitamento é a pior coisa que se pode fazer.” Aconselha a aplicar o mesmo às relações com os outros, compreendendo que há dias menos bons, e aproveitando este início de ano para agradecer. “O reconhecimento aproxima-nos dos outros”, acredita.

A psicóloga reforça que é preciso um equilíbrio na gestão emocional, o que nem sempre é simples. Por isso, a meditação e os exercícios de respiração podem ser aliados. Vera Ramalho aconselha, para iniciantes, um pequeno treino diário, a chamada “respiração do quadrado”: inspire lentamente durante quatro segundos e mantenha os pulmões cheios de ar por mais quatro segundos. De seguida, expire lentamente durante quatro segundos e mantenha os pulmões vazios durante mais quatro segundos.

É desse equilíbrio que fala também Veríssimo Silvestre, que destaca o novo ano como o ano em que se deve reflectir sobre o balanço entre a vida pessoal e profissional. Quando se está sob stress permanente, explica, o corpo produz hormonas que o vão danificando. O médico recorda que, biologicamente, estes eram mecanismos de defesa da espécie. “Hoje andamos sempre a correr, não vivemos. Parece que andamos com os tigres atrás de nós”, compara. E apela: “Perdemos toda a saúde para ganhar dinheiro. E com todo o dinheiro que ganhamos não recuperamos a saúde que perdemos...”

Equilíbrio à mesa e no treino

A saúde também começa pelo que se põe à mesa, e a nutricionista Ana Bravo destaca que, mais do que “ser refém de regras alimentares” ou tentar fazer uma desintoxicação, é importante, sim, “mudar comportamentos”. “Para emagrecer, temos de garantir que se mantém o prazer de comer”, sublinha, relembrando que este é um dos pilares da dieta mediterrânica, da qual é adepta.

Ao encontro do autocuidado, a autora de Nutrição com Coração sugere que o momento de preparar as refeições seja como uma meditação: ponha a música de que mais gosta e escolha receitas saudáveis e igualmente saborosas. O objectivo é promover “o bem-estar em torno da alimentação.” Quanto ao que se deve evitar, não existem alimentos proibidos, ainda que os transformados, os enchidos e os produtos de pastelaria sejam de evitar. “Nem sempre nem nunca...”, resume.

E esse mantra aplica-se também ao exercício físico, acredita a coach e fundadora do Movimento Ama-te, Vera Viegas. O projecto, criado a pensar em mulheres, concentra-se no trabalho de força, flexibilização e mobilização, e trabalha o conceito de “disciplina”, aquilo que a coach acredita ser o segredo para o sucesso nos treinos. “Temos de ser consistentes, de preferência com prazer e amor”, sublinha.

Se o novo ano for o ano em que resolve começar a treinar-se, Veríssimo Silvestre lembra que podem ser necessárias algumas avaliações sobre riscos de saúde preexistentes, sobretudo para quem tem mais de 40 anos. O médico também pode aconselhar o tipo de exercício físico mais adequado para cada caso, para que a motivação de fazer mais pela sua saúde não tenha o efeito oposto.

E Veríssimo Silvestre deixa três conselhos finais para incluir nas resoluções de Ano Novo: “Deixe de fumar”, pede, aconselhando a consulta de cessação tabágica, em que o médico poderá ajudar com a medicação correcta; depois, faça uma limpeza à despensa para tirar alimentos desnecessários; e, por fim, pondere o consumo de canabinóides, os quais, a longo prazo, danificam a capacidade de reflexão e podem desencadear outras doenças do foro psiquiátrico.

Sugerir correcção
Comentar