Inquérito revela preocupação quanto ao valor das pensões no futuro

Há uma diferença de quase 340 euros entre o valor da pensão que esperam receber e aquilo que dizem que precisam para viver.

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Falta de capacidade financeira é o principal entrave à poupança complementar para a reforma JOÃO CORDEIRO

Na hora de falar de pensões, a preocupação dominante entre os futuros reformados é que não conseguirão assegurar um nível de vida semelhante ao que tinham quando estavam a trabalhar e que haverá uma diferença significativa entre o rendimento de que precisariam e o que irão receber. Estas são algumas das conclusões do inquérito realizado pelo Instituto BBVA de Pensões e que será apresentado durante a conferência As Pensões e a Poupança em Portugal, que decorrerá nesta sexta-feira em Lisboa.

Tendo por base as entrevistas feitas a 1004 pessoas (entre os dias 29 de Setembro e 15 de Outubro de 2015), o instituto conclui que 60% dos inquiridos considera que terá um nível de vida inferior ao que tem actualmente, sentimento que, embora seja predominante, tem vindo a atenuar-se desde 2013.

Para esta percepção contribuem vários factores. O facto de a maioria dos inquiridos considerar que o valor das pensões será menor do que as pensões em pagamento e a ideia de que há uma diferença significativa entre o rendimento que consideram necessário para viver e o valor da pensão que irão auferir.

Em média, os inquiridos esperam receber uma pensão que rondará os 532,4 euros, mas precisariam de 871,1 euros mensais para fazer face às necessidades quando deixarem a vida activa, originando um défice de 339,3 euros. Em todos os segmentos existe esta percepção, mas o maior diferencial é identificado nas respostas das mulheres, das pessoas entre os 26 e os 55 anos e pertencentes à classe média e média-baixa.

Embora a esmagadora maioria dos entrevistados (87%) considere que a responsabilidade de assegurar uma reforma adequada é do Estado, verifica-se um aumento da percepção de que essa responsabilidade é também dos cidadãos (passou de 32% em 2014 para 41%) e das empresas (passou de 24% para 33%).

Perante esta percepção, nota Adelaide Cavaleiro, a responsável do Instituto BBVA que nesta sexta-feira apresentará as conclusões do estudo, “parece que aumenta a sensação de que a solução para este problema é uma responsabilidade de todos e não exclusiva das instituições públicas”.

Em 2015, aumentou a percentagem de entrevistados (de 89% em 2014 para 94%) que considera essencial poupar para complementar a pensão. Mas da teoria à prática continua a haver uma grande distância e só 38% do total das pessoas entrevistadas começou a poupar para a reforma. A maior parte não poupa (40%) ou pensa fazê-lo mais tarde (22%) por falta de recursos.

O inquérito revela que aumentou a percentagem de pessoas que gostariam de poupar para a reforma, mas não o fizeram por não terem capacidade económica. Em 2014, essa era a razão apontada por 28% das pessoas, passado um ano passou a ser a justificação avançada por 53% dos inquiridos. Outras razões que assumem um peso significativo têm a ver com a existência de outras prioridades ou necessidades e com a falta de planeamento.  

Os inquiridos continuam a manifestar dúvidas quanto à sustentabilidade do sistema público de pensões, mas a visão é mais optimista do que nos inquéritos anteriores. Mais de metade dos inquiridos (51%) respondeu afirmativamente quando questionados sobre se acreditam que o sistema público existirá quando chegarem à idade da reforma Trata-se de uma percentagem maior do que os 47% de 2014. Essa percepção positiva ocorre sobretudo nos jovens e na classe média e média-alta.

O documento evidencia um grande desconhecimento por parte dos cidadãos inquiridos quanto ao sistema público de pensões: 43% não sabe quantos anos tem de trabalhar para receber a pensão completa, 80% não consegue dizer qual o valor da pensão a que teria direito e 70% desconhece o que é o fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social e para que serve.

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