Poupança das famílias volta a baixar e atinge novo mínimo

Taxa de poupança diminui para um valor equivalente a 4% do rendimento disponível.

Foto
A poupança está no valor mais baixo desde, pelo menos, 1999 Nuno Ferreira Santos

O aumento do consumo privado e uma ligeira redução do rendimento disponível das famílias levou a uma nova descida da taxa de poupança, que no terceiro trimestre bateu num novo mínimo histórico. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), que publicou nesta quarta-feira as contas nacionais trimestrais, a taxa de poupança baixou para 4% do rendimento disponível das famílias, quando nos três meses anteriores este rácio estava em 4,8%.

Um ano antes, no terceiro trimestre de 2014, a poupança equivalia a 7,4% do rendimento disponível. A redução mais abrupta na poupança deu-se no trimestre seguinte, quando passou para 5,9%, continuando a descer a partir daí, até recuar para valores historicamente baixos durante dois trimestres consecutivos. Ao passar agora para 4%, a taxa fica no valor mais baixo em 16 anos – desde o primeiro trimestre de 1999 (primeira data para a qual há dados disponíveis).

A capacidade de financiamento das famílias continuou a diminuir, por causa da redução da poupança, que por sua vez encolheu por causa de “efeitos conjugados” da dinamização do consumo privado (a um ritmo de 0,8%) e de uma “ligeira redução” do próprio rendimento disponível das famílias (em 0,1%).

A redução do rendimento, explica o INE, resultou do facto de as remunerações das pessoas terem diminuído, ao mesmo tempo em que também encolheram os rendimentos de propriedade. Cerca de 63% do rendimento disponível das famílias resultavam das remunerações.

No caso dos salários, o INE lembra que esta redução no terceiro trimestre sobretudo por causa das alterações nos vencimentos dos funcionários públicos. Apesar de os cortes nos salários terem tido uma primeira reversão de 20% no início deste ano, os valores do terceiro trimestre comparam com um trimestre homólogo de 2014 em que, durante um período, não vigoraram os cortes por causa do chumbo do Tribunal Constitucional, que levaria o anterior Governo de Pedro Passos Coelho a reformular a medida dos cortes na função pública.

Foto

Segundo o INE, “as remunerações e o saldo dos rendimentos de propriedade representaram, em conjunto, um contributo de -0,2 pontos percentuais para a taxa de variação do rendimento disponível”, o que só em parte foi compensado pela “diminuição dos impostos e pelo aumento das prestações sociais líquidas”.

Se as famílias estão a beneficiar de uma redução dos juros (com menos despesa nos pagamentos dos empréstimos), esse ganho foi anulado pela “redução dos rendimentos de propriedades (juros e dividendos) recebidos”.

Esta evolução dos rendimentos aconteceu num trimestre em que o índice do custo do trabalho se degradou, em que as ofertas de emprego abrandaram e em que a taxa de desemprego se manteve em 11,9% da população activa, ao mesmo tempo em que a criação de emprego registou um ligeiro aumento de 0,2%.

Numa análise recente sobre o endividamento e dos fluxos de crédito, a economista Clara Synek, do gabinete de planeamento e estratégia do Ministério das Finanças, lembrava que o esforço de desalavancagem do sector privado tem sido feito essencialmente pelas famílias, cujo esforço de redução do endividamento foi de nove pontos percentuais do PIB nos últimos quatro anos, enquanto o das empresas (não financeiras) se ficou pelos três pontos. Mas deixava um alerta tendo em contas: “Convém acautelar alguns fenómenos menos positivos surgidos no período mais recente, com destaque para o recrudescimento do crédito ao consumo, a par de uma diminuição da taxa de poupança das famílias”.

Já a poupança corrente de toda a economia aumentou no terceiro trimestre, porque o crescimento global do rendimento disponível foi “ligeiramente superior ao aumento da despesa de consumo final da economia”, segundo INE. Ao todo, a capacidade de financiamento da economia manteve-se em 1,3% do PIB.

Sugerir correcção
Comentar