Crédito malparado das exportadoras está a subir

Rácio de crédito vencido mais que duplicou em um ano, chegando aos 4,6%. Exposição a países como Angola cria dificuldades.

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Manuel Roberto

Entre Maio e Junho deste ano, as empresas exportadoras foram as únicas, do universo analisado pelo Banco de Portugal, que viram subir o rácio de crédito vencido, de 4,4% para 4,6% (embora ainda longe da média das sociedades não financeiras, que passou de 16,1% para 16% no período em análise).

Numa análise mais longa, verifica-se que no espaço de um ano e meio este rácio duplicou, passando de 2,2% em Dezembro de 2013 para os referidos 4,6%. Ainda de acordo com os dados de Junho do Banco de Portugal (os mais recentes), 10,1% do universo de empresas exportadoras tinham dívidas por pagar aos bancos. Questionado sobre se este é um sinal de alerta, João Leão, economista e professor no ISCTE (e que esteve ligado ao programa macroeconómico do PS), refere que reflecte “um problema significativo para empresas exportadoras muito expostas a mercados emergentes em dificuldades”.

No entanto, acrescenta, “apesar do forte aumento desde 2013, o crédito vencido total das empresas exportadoras ainda se encontra em níveis aceitáveis”. Para este economista, que tem acompanhado a situação das empresas, no caso das exportadoras “a exposição a mercados em crise, em particular Angola, mas também o Brasil e outros, deverá ter sido uma das causas principais do aumento do crédito vencido”. “Desde 2014 a queda do preço do petróleo e de outras matérias-primas afectou de forma dramática e inesperada esses mercados o que conduziu a dificuldades nos pagamentos às empresas exportadoras”, explica.

O problema de Angola é, entre os países para onde se exporta, o mais expressivo. De acordo com os dados agora divulgados pelo INE, o mês de Julho voltou a assistir a uma queda expressiva das vendas para este país, chegando aos -33,8% em termos homólogos, o equivalente a 93,5 milhões de euros. Em termos acumulados, a queda de Janeiro a Julho é de 26,8% (460 milhões de euros).

Conforme já noticiou o PÚBLICO, há mais de 5000 empresas que dependem a 100% deste país para escoar os seus produtos para fora do mercado interno. O PÚBLICO tentou saber junto do Ministério da Economia qual o ponto de situação da linha de crédito para as empresas com negócios em Angola, mas foi respondido que o balanço só deverá ocorrer no final do mês. Ainda assim, o saldo da balança comercial de Portugal com Angola é positivo em 408,9 milhões, embora tenha descido face a 2014. A queda podia ser maior, não fosse o contributo do mesmo factor que tem provocado a crise económica em Angola, a descida dos preços do petróleo. Entre Janeiro e Julho, o valor das compras a este país caiu 21,9%. 

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