Impacto negativo de Angola nas exportações atenuado por outros mercados

Vendas para o mercado angolano encolheram 367 milhões no semestre, mas exportações para fora da UE subiram 2,3%

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Daniel Rocha

A queda na venda de bens para Angola já vai nos 367 milhões de euros este ano (desceu 25%, de 1441 para 1074 milhões no semestre), com Junho a representar o segundo pior mês, em termos homólogos. No entanto, de acordo com os dados publicados pelo INE, as exportações para fora do espaço europeu subiram 2,3% entre Janeiro e Junho, para os 6818 milhões de euros, com este último mês a representar um crescimento homólogo de 7,1%.

O impulso foi dado graças a mercados como o norte-americano, para o qual foram vendidos bens no valor 1255 milhões de euros (mais 27,4%), entre os quais se destacam os combustíveis.

Ao mesmo tempo, a factura com as importações de bens produzidos fora da Europa desceu 2% para os 7148 milhões de euros, beneficiando de factores como o baixo preço do petróleo. Só em Junho, o total das importações extra-UE caiu 13,4%, ficando nos 1264 milhões, com o INE a dizer que a descida foi generalizada em quase todos os produtos, mas sobretudo na rubrica de combustíveis minerais.

Numa análise publicada esta semana, o Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI destacava que o saldo dos combustíveis, entre Janeiro e Maio deste ano, apresentava uma melhoria de 999 milhões de euros. “Caso as tendências persistam até ao final do ano, o saldo de combustíveis registará ainda um défice, mas este poderá ser inferior a 2% do PIB, o que contrasta com uma média de 3,5% na última década”, sublinhava o BPI.

Em termos de trocas dentro do espaço europeu, as exportações subiram, no conjunto do semestre, a um ritmo ligeiramente superior ao das importações (7% e 6,2%, respectivamente), com Reino Unido e Espanha a mostrarem a maior dinâmica na compra de bens portugueses.

No caso do Reino Unido, este já substituiu Angola como quarto maior mercado (os EUA passaram a liderar fora da UE, sendo o quinto mercado), tendo as vendas para este país subido 14,3% para 1638 milhões de euros no primeiro semestre. Quanto a Espanha, o maior parceiro do mercado nacional comprou mais 11,7% em valor, chegando aos 6378 milhões de euros. O défice da balança comercial com Espanha continua bastante acentuado (3443 milhões), mas as importações de produtos espanhóis tiveram uma subida de 6,5%, inferior à das exportações.

 Em termos globais, contabilizando todos os mercados internacionais, a balança comercial de bens chegou ao fim do primeiro semestre com um défice total de 4842 milhões de euros, o que representa uma melhoria de 3,6% (ou 182 milhões de euros) face ao mesmo período do ano passado.

A 5 de Agosto, o INE divulgou um inquérito sobre as perspectivas dos exportadores para este ano, onde os empresários diziam esperar vender mais 3,4% do que em 2014. No inquérito anterior, a estimativa era de 2,5%. De acordo com os dados publicados, os empresários apontam para uma subida nas exportações na maioria das categorias, excepto nos produtos alimentares e bebidas, onde antecipam uma retracção de 0,3% (Angola é um grande mercado destes produtos). O mesmo inquérito dava nota que os empresários apontam para um aumento a um ritmo superior nas exportações para países de fora da União Europeia.

Apesar de os dados do INE terem aspectos positivos, a crise económica que tem atravessado Angola não deixa de causar impactos negativos, seja pelo facto de haver mais de 5000 empresas que dependem a 100% deste país para escoar os seus produtos para fora do mercado interno, seja por causa do grande número de portugueses que foram trabalhar para este país.

Ao mesmo tempo, houve meses em que as importações subiram a um ritmo superior ao das exportações, pressionando a balança comercial. Olhando apenas para o segundo trimestre, verifica-se que a taxa de cobertura desceu 1,2 pontos percentuais para 82,4%, com o saldo negativo a acentuar-se. Para países pequenos como Portugal “o aumento das exportações e/ou a substituição de importações é a única via de crescimento” sem recurso a endividamento, destacava a análise do BPI sobre o comércio internacional.

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