De um “intenso debate”, o controlo de capitais passou a um não-assunto na cimeira

Nova tranche não cobre amortizações de dívida de longo prazo e reembolsos ao FMI até ao fim do ano.

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Schäuble na reunião extraordinária do Eurogrupo que antecedeu a cimeira de líderes EMMANUEL DUNAND/AFP

Numa corrida contra o tempo, o Banco Central Europeu (BCE) voltou nesta segunda-feira a discutir uma extensão do mecanismo de Assistência de Liquidez de Emergência (ELA, na sigla inglesa) providenciada aos bancos gregos, apesar das pressões de alguns parceiros europeus para que a Grécia avançasse com um controlo de capitais, como aconteceu durante a crise de Chipre.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi categórico a dizer que o assunto não chegou à mesa da cimeira de líderes em Bruxelas. “Não falámos do controlo de capitais esta noite [segunda-feira]”, garantiu no final do encontro de chefes de Estado e de Governo do euro, depois de relatos na imprensa darem conta de que o tema fora abordado na reunião do Eurogrupo, durante a tarde.
Perante o nível de levantamentos de depósitos, a um ritmo de 700 milhões por dia, os ministros das Finanças terão tido, segundo o Financial Times, um “intenso debate” sobre a imposição de um controlo de capitais, um cenário que alguns analistas consideravam inevitável. De acordo com o jornal britânico, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, e o homólogo irlandês, Michael Noonan, defenderam restrições ao dinheiro emprestado através do ELA, o que obrigaria, em vez disso, a um controlo de capitais.

Em 2013, quando a crise cipriota se precipitava numa corrida aos depósitos, a zona euro forçou um controlo de capitais no país, não só com o encerramento de balcões dos bancos, mas também com a imposição de limites aos levantamentos de dinheiro, às transferências bancárias online e às ordens de pagamento.

Clemens Fuest, presidente do think tank alemão ZEW (Centro para a Investigação Económica Europeia) considerava inevitável que o resultado da cimeira de ontem levasse à “introdução de um controlo de capitais na Grécia”, algo que não se verificou. “Os gregos estão a levantar o dinheiro dos bancos e são as ajudas do BCE que estão a assegurar a liquidez dos bancos. Como resultado, os riscos de responsabilidade para os contribuintes da zona euro estão a aumentar de dia para dia, enquanto cresce o poder de negociação do Governo grego”, escreveu Fuest, que foi conselheiro do Ministério das Finanças alemão.A expectativa de aprovação de um acordo é que possa desbloquear a entrega da última tranche do empréstimo à Grécia, no valor de 7200 milhões. É uma fatia que, a ser aprovada, servirá em parte para pagar o reembolso dos 1544 milhões que Atenas tem de pagar ao Fundo até 30 de Junho. Essa é a amortização de dívida que a Grécia tem no imediato. Mas até ao fim do ano, os reembolsos aproximam-se dos 20 mil milhões de euros, entre pagamentos ao FMI, reembolsos de títulos de dívida e amortizações de bilhetes de curto prazo.Ainda que sejam descontados os reembolsos dos bilhetes com períodos de amortização mais curtos, o restante montante a devolver continua a ser maior do que a verba da última tranche do empréstimo. Somado, o valor a pagar ao FMI e aos investidores que comparam títulos de dívida de longo prazo ascende a 11.842 milhões. Só ao FMI, depois de saldar os quase 1600 milhões de euros em Junho, o Tesouro grego enfrenta em Julho um pagamento de 452 milhões, mais quatro amortizações de dívida ao longo do mês de Setembro, no valor de 1544 milhões.Uma questão que continua em aberto é saber se a zona euro aceita uma solução em que, para além do desembolso da última tranche, a Grécia possa usar os cerca de 10.900 milhões de euros já emprestados para a recapitalização dos bancos, no quadro dos resgates da troika.
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