Há mais de 100 interessados na concessão de 14 Pousadas da Juventude

Prazo final para a entrega das candidaturas termina segunda-feira e só nessa altura se saberá quantas propostas concretas avançaram. Movijovem quer abrir capital social às associações juvenis.

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Algumas pousadas da juventude têm taxas de ocupação baixas e precisam de obras PAULO PIMENTA

Mais de 100 entidades pediram para consultar os documentos do processo de concessão de 14 das 40 Pousadas da Juventude actualmente funcionar em todo o país. O prazo final para a entrega de propostas termina amanhã pouco antes da meia-noite e só nessa altura se saberá quem formalizou, de facto, uma candidatura para passar a gerir as unidades hoteleiras, detidas em 80% pelo Instituto Português da Juventude e 20% pela Associação de Utentes das Pousadas da Juventude.

A rede nacional acumula um passivo de 9,7 milhões de euros, mas a partir de 2012 passou de prejuízos continuados para resultados positivos devido a um profundo corte na despesa, incluindo com trabalhadores. Chegou a estar em liquidação, contudo, o Governo reverteu a decisão e decidiu avançar, já este ano, para a concessão a privados de 14 unidades. Além disso, a Movijovem, entidade gestora, está em conversações com as câmaras municipais de Setúbal, Oeiras, Vila Real e Braga para que passem a administrar outras quatro pousadas, num processo que deverá estar concluído em Julho. Contas feitas, há 18 concessões em curso e a intenção é ter um total de 25 unidades cedidas a terceiros este ano.

O concurso que agora está a terminar é feito pousada a pousada e, de acordo com Ricardo Araújo, presidente da direcção da Movijovem, uma das mais procuradas é a de Lisboa, na Rua Andrade Corvo. As razões são fáceis de entender: tem os melhores resultados da rede (cerca de 210.300 euros de receitas em 2014) e é uma das duas que, na lista das 14, ostentam números positivos. A outra é a pousada do Parque das Nações.

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“Temos 100 pedidos de entidades que solicitaram o acesso aos documentos, o que é um bom indicador. Contudo, tenho a consciência que, uma coisa são pedidos de consulta, outra é capacidade e vontade para apresentar propostas concretas. Definimos um caderno de encargos exigente”, diz Ricardo Araújo.

Um dos requisitos que os potenciais vencedores terão de cumprir é o pagamento de uma caução e de um valor mínimo inicial que servirá para abater as dívidas à banca e varia de acordo com os resultados de cada pousada – vai de 2500 euros a 2,2 milhões, no caso da pousada de Lisboa. O concessionário pagará à Movijovem uma renda equivalente a 15% do valor da facturação bruta e tem de adoptar preços máximos de referência, definidos anualmente pela entidade pública. A expectativa do Governo é encaixar um mínimo de 2,827 milhões de euros e um máximo de 4,375 milhões com as concessões.

Prejuízos em 31 pousadas
Ricardo Araújo acredita que empresas hoteleiras, associações juvenis e autarquias são os principais interessados em ficar com a gestão das unidades e em pô-las a render. Apenas nove das 40 têm resultados positivos, as restantes estão no vermelho, com baixas taxas de ocupação e, algumas, a precisar de obras urgentes. A abertura de novos edifícios não contribuiu para aumentar as dormidas e a rede encolheu. Em 2011 havia 45 unidades, cinco encerraram. Ainda assim, depois de anos de complicações, será inaugurada mais uma em Évora, em meados de Julho (ver caixa).

De prejuízos de mais de 1,7 milhões de euros em 2008, as pousadas passaram a resultados positivos de 200.878 euros o ano passado. Algo que foi sustentado na diminuição de despesa a nível da contratação de serviços e de recursos humanos. “Os gastos com pessoal foram de 3,9 milhões de euros em 2014, quando em 2009 chegavam aos 5,7 milhões”, detalha Ricardo Araújo, acrescentando que o número de trabalhadores (sem vínculo à função pública) passou de 413 para 326 nesse período. A frota automóvel também foi reduzida de 45 para 18 viaturas, e chegará às 12 este ano.

Não foi com aumentos substanciais de dormidas que os resultados melhoraram, mas houve tímidos progressos na taxa de ocupação em 2014 (de 29,3% para 29,6%) e nas dormidas (de 323 mil em 2013 para 329 mil). As unidades estão a funcionar com “serviços mínimos” tendo apenas, em média, sete a oito funcionários, diz. O presidente da Movijovem refere ainda que as diferenças de qualidade entre edifícios dificultam a comunicação com o cliente, já que há unidades recentes e em muito bom estado, e outras a precisar de obras. Ou seja, falta consistência ao produto.

A concessão vai “acabar com o monopólio da Movijovem” e “abrir oportunidades” a quem queira explorar o potencial da rede, integrada na Hostelling International, que conta com mais de 4500 hotéis e albergues de juventude em todo o mundo, defende Ricardo Araújo, cuja prioridade é melhorar as equipas comerciais e a central de reservas.

Nos planos está ainda a abertura do capital social a associações juvenis, como o Conselho Nacional da Juventude e a Federação Nacional das Associações Juvenis. “Será uma participação simbólica que servirá para alargar a participação dos jovens na estrutura social da Movijovem”, detalha. 

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