“O risco de contágio não é zero”

Até 2013, a sua opinião sobre a crise da dívida soberana da zona euro era ouvida com muita atenção pelos mercados. Até 2011, Jörg Asmussen esteve ao lado de Wolfgang Schäuble nas reuniões decisivas na resposta da zona euro à crise financeira internacional e na negociação dos resgates à Grécia, Irlanda e Portugal. Entre 2012 e 2013, desempenhava um papel de ligação entre o Banco Central Europeu, do qual era membro do conselho executivo, e o eurogrupo.

Regressado de forma surpreendente a Berlim, para fazer parte da equipa do Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais, Asmussen evita agora responder a perguntas sobre o rumo da negociação entre a Grécia e os outros países da zona euro, onde a Alemanha assume um papel de destaque. Faz isto porque não está já na equipa das Finanças, que está a cargo da CDU, tendo ficado antes com os assuntos sociais e laborais entregues ao outro partido da coligação governamental, o SPD, ao qual pertence desde 1987.

Ainda assim, não deixa de dar a sua opinião sobre a possibilidade de a Grécia sair o do euro e do impacto que isso teria para a totalidade da zona euro. E, neste capítulo, Jörg Asmussen demarca-se claramente daqueles que acham que os riscos de contágio agora já não são significativos. “O contágio de um país sair do euro seria menor do que em 2012, mas não seria zero. Sim, temos o MEE, temos o início da união bancária, por isso o enquadramento institucional é melhor, mas o risco de contágio não é zero”, afirma.

O membro do Governo liderado por Angela Merkel está particularmente preocupado com os efeitos de longo prazo na zona euro de uma saída de um país. “O que é acontece daqui a três seis anos? Ninguém sabe, mas se passa a haver um exemplo de que o projecto do euro pode ser reversível, ficamos sem saber se os mercados financeiros nos vão testar outra vez e qual o país que irão testar”, afirma Asmussen, lembrando que “iriamos passar de uma área com uma moeda única para um sistema de taxas de câmbio fixas”.

Jörg Asmussen critica aqueles que têm muitas certezas sobre aquilo que aconteceria num cenário de ruptura.”Temos de ser um pouco humildes relativamente ao que sabemos e ao que não sabemos. Se olharmos para 2012, tínhamos um grupo que tinha a teoria da perna infectada, de que se cortarmos a perna, o resto do corpo ficaria melhor. Também havia outro grupo que tinha a teoria do dominó, de que se um país caísse, os outros países caíriam algumas semanas depois. Confesso que nessa altura eu não sabia o que iria acontecer. É preciso ser muito cuidadoso, e isso faz com que sejamos mais aversos ao risco”, afirma. Asmussen faz questão ainda de sublinhar que não se pode esquecer aquilo que aconteceria à Grécia: “E no que diz respeito à teoria da perna infectada, o que é que acontece à parte da perna que é cortada?”

Sugerir correcção
Comentar