O tom mudou, a mensagem nem tanto

Os técnicos do FMI usam agora um tom conciliador para dizer que ainda há mais reformas por fazer.

No final de Janeiro, o FMI publicou o primeiro relatório de avaliação após o resgate da troika. E foi pouco meigo nas críticas que fez ao Governo. Os técnicos de Washington diziam então que a vontade de fazer reformas tinha esmorecido nos últimos seis meses e que no período pré-eleitoral “a tentação de adoptar políticas populistas deverá aumentar”. As insinuações caíram bastante mal em São Bento e foi o próprio director executivo do Fundo para Portugal que saiu em defesa do Governo. Carlo Cottarelli disse na altura que "as eleições são uma característica bem-vinda dos regimes democráticos e não devem ser apresentadas como acontecimentos disruptivos dos processos de reforma".

E foi mais longe, dizendo que os técnicos nem sequer fizeram os devidos elogios ao país. Foi o quanto bastou (e uma carta de Maria Luís Albuquerque a queixar-se ao comissário europeu) para que o FMI mudasse radicalmente o tom da conversa. Nesta terça-feira, no retrato que faz do país no chamado Artigo 4.º, o Fundo começa precisamente por elogiar os resultados (positivos) alcançados pelo programa de ajustamento e recordar o reembolso antecipado de parte do empréstimo do FMI. Depois repete o que tinha dito em Janeiro – que o ritmo das reformas abrandou ou parou –, só que num tom menos presunçoso e de maior cordialidade.

Se a forma mudou, o conteúdo da mensagem praticamente ficou inalterado. E nem podia mudar, a bem da coerência, pois só se passaram dois meses. O FMI continua a exigir mais reformas que, para Washington, têm de passar por mudanças no mercado de trabalho, nos salários, pensões e nos sectores mais protegidos da concorrência. E o FMI diz que o timing para as executar – com a ajuda do petróleo, euro e juros em queda – é agora o ideal. E aqui regressamos ao relatório de Janeiro do Fundo; será que em ano eleitoral haverá algum ímpeto reformista?  

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