A entrada de Atenas no discurso interno dividiu outra vez esquerda e direita

Nenhum partido ficou indiferente e a troca de argumentos tem subido de tom.

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O BE considera o Syrisa um "partido-irmão" Daniel Rocha

A vitória do Syriza na Grécia e as difíceis negociações do Governo de Alexis Tsipras em Bruxelas não deixaram em Portugal nenhum partido indiferente, numa troca de argumentos que tem subido de tom entre esquerda e direita.

Desde que o Syriza chegou ao poder na Grécia, o BE tem sido o "partido-irmão", como a porta-voz do partido, Catarina Martins, lhe chamou a 25 de janeiro, data das eleições na Grécia.

Na altura, Catarina Martins deu o mote para as intervenções que ao longo do último mês o BE tem feito em defesa dos gregos, considerando que se tinha tratado da "vitória da dignidade contra a austeridade" e da "democracia contra a chantagem".

Alinhados com o discurso anti-austeridade, os comunistas têm igualmente estado ao lado dos que derrotaram "os responsáveis pelo desastre económico e social" na Europa, aproveitando a 'deixa' para insistir na necessidade de também em Portugal se fazer uma rutura.

Inicialmente mais moderado no apoio ao Syriza, o PS tem aproveitado a situação grega para insistir na necessidade de acabar com as políticas de austeridade e lançar críticas ao Governo, nomeadamente às posições que têm sido assumidas em Bruxelas pelo executivo de maioria PSD/CDS-PP.

Aliás, logo no dia a seguir às eleições, o primeiro-ministro deixou antever uma posição crítica face ao novo executivo grego, com Pedro Passos Coelho a apelidar de "conto de crianças" a ideia de que "é possível que um país, por exemplo, não queira assumir os seus compromissos, não pagar as suas dívidas, querer aumentar os salários, baixar os impostos e ainda ter a obrigação de, nos seus parceiros, garantir o financiamento sem contrapartidas".

Da parte dos partidos que sustentam o Governo, uma das principais tónicas tem sido colocada no que separa a Grécia de Portugal, com sociais-democratas e democratas-cristãos a insistirem que a situação dos dois países não é comparável, até porque Portugal já concluiu o seu programa de resgate com êxito.

As declarações do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, sobre a solidariedade portuguesa para com a Grécia foram motivo para esquerda e direita esgrimirem novos argumentos, depois de o Chefe de Estado ter lembrado que já saíram da "bolsa dos contribuintes portugueses" muitos milhões de euros para aquele país.

Entre acusações do BE de estar a alinhar com os populismos dos "egoísmos nacionais" acerca da Grécia e dos comunistas de actuar como porta-voz da maioria, a reacção mais violenta às palavras de Cavaco Silva veio do PS, com o presidente do partido, Carlos César, a acusar o Chefe de Estado de humilhar o povo e o executivo grego e agir como "um delegado eleitoral do PSD".

Já depois de o Eurogrupo ter chegado, na sexta-feira, a acordo para o prolongamento da assistência financeira à Grécia, as notícias que apontavam para a oposição de Portugal e da Espanha ao compromisso alcançado voltou a fazer subir o tom das críticas da oposição, com o secretário-geral do PS a acusar o Governo de querer agravar a "austeridade dos outros", em vez de aproveitar a flexibilização dada à Grécia para beneficiar os portugueses e a economia portuguesa.

"O Governo português assumiu-se como o mais devoto defensor das orientações do Eurogrupo e particularmente da Alemanha e do seu ministro", criticou, por sua vez o líder comunista, corroborado pela porta-voz do BE que condenou a "submissão" de Passos Coelho, considerando que o executivo  "envergonha" os portugueses.

Ao final de sábado chegaria a resposta da ministra das Finanças, com Maria Luís Albuquerque a garantir, numa entrevista ao Jornal das 8 da TVI, que não sugeriu alterações ao acordo do Eurogrupo com a Grécia e que colocou apenas questões relacionadas com procedimentos.

Já no domingo, e depois de novas críticas da oposição, com o PS a considerar que o Governo esteve mais interessado em defender as suas políticas de austeridade do que o interesse nacional, os partidos da maioria devolveram as acusações, com PSD a acusar os socialistas de se comportarem como porta-voz do Syriza e CDS-PP a reiterar que o Portugal fez parte do "consenso" que aprovou o acordo com os gregos.

Ao início da noite, o primeiro-ministro também falou sobre o assunto, garantindo que Portugal teve uma "posição construtiva no Eurogrupo" e recusando qualquer concentração com a Alemanha. Tal como os partidos que sustentam o Governo, Passos Coelho fez ainda questão de assinalar uma evolução na posição do executivo de Alexis Tsipras, defendendo que se deve ter "uma atitude positiva" para que se mantenha a disponibilidade para que "tudo dê certo" e a Grécia possa fechar o seu programa de assistência financeira.

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