À porta da PT, desabafos em voz baixa e protestos ruidosos

Trabalhadores protestaram na sede da empresa contra a venda à Altice e a fusão com a Oi.

Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos
Fotogaleria
Nuno Ferreira Santos

“Tenho de fazer pelo meu emprego. Não vou ficar aqui à espera que me dêem um chuto”. O desabafo, em voz baixa e ouvido de passagem, foi feito entre colegas, no exterior da sede da PT, onde é frequente ver trabalhadores, de crachá ao pescoço, a fazerem uma pausa para um cigarro e uma conversa. A escassos metros, e bem mais ruidoso, começava um protesto sindical contra a venda da empresa, o tema de uma assembleia geral de accionistas, que estava prestes a começar.

No jardim em frente ao edifício, em Picoas, uma movimentada zona central de Lisboa, foram colocadas várias placas, cada uma com o nome de uma região do país – Alentejo, Minho, Trás-os-Montes – e a respectiva frase de protesto. A contestação tanto visava a possível venda à francesa Altice, dona da Cabovisão, como a recente fusão com a brasileira Oi: “Deixem-nos em paz. Oi fora da PT”, lia-se numa placa. “A PT não é para vender”, dizia outra. Numa faixa maior, um apelo semelhante: “A PT é do país, é dos trabalhadores, não é para vender, não é para destruir”.

A manifestação foi organizada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual, ligado à CGTP. António Caetano, dirigente sindical e funcionário da PT há 30 anos, sumariza a contestação: “Somos contra a venda. Se a venda se concretizar, estão em causa os postos de trabalho e o plano de saúde da PT”. Acrescenta ainda que, caso a fusão com a Oi “esteja ferida de ilegalidade”, é preciso “reparar” a situação.

O protesto reunia dezenas de trabalhadores, vindos de vários pontos do país. Ao início da tarde, misturavam-se na rua com outros funcionários da PT, com os muitos transeuntes habituais àquela hora, com alguns curiosos que paravam por breves momentos e ainda com os accionistas que chegavam para a assembleia geral.

Com o aproximar das 15h, a hora marcada para a assembleia geral, meia dúzia de polícias perfilou-se despreocupadamente entre os manifestantes e a entrada do edifício. Não parecia, contudo, haver por parte de quem empunhava cartazes qualquer intenção de entrar ou perturbar a reunião. 

Hélder Almeida, 49 anos (26 dos quais na PT), veio de Faro “protestar contra a venda da empresa a retalho” e contra “a liquidação” da Associação de Cuidados de Saúde da PT, uma associação não lucrativa destinada aos funcionários da empresa. Ao lado, Maria Irene Branco, já reformada, vai assentindo com a cabeça, de acordo com as queixas. Apesar de já não estar no activo, recebe da empresa um complemento de reforma.

Os manifestantes faziam-se ouvir bem. Alguns sopravam apitos. Um carro parado na estrada e com altifalantes no tejadilho ia soltando frases gravadas, como “o desenvolvimento das sociedades passa pelas telecomunicações”. A dada altura, uma faixa foi aberta e segurada de propósito para uma das várias câmaras televisivas que estavam no local.

 

Sugerir correcção
Comentar