Oi endurece o tom, mas Isabel dos Santos insiste na OPA à PT SGPS com menos exigências

Depois de a Oi considerar algumas das suas condições "inaceitáveis", a empresária angolana admite desistir ou alterar algumas das exigências relacionadas com os termos de fusão negociados entre a PT e a Oi depois da crise da Rioforte.

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A PT SGPS só deverá pronunciar-se formalmente sobre a OPA na sexta ou na segunda-feira Foto: Miriam Lago/Arquivo

A Oi endureceu o tom, Isabel dos Santos suavizou-o (pelo menos na aparência). E nenhuma das partes fechou a porta a um entendimento que passe pela entrada da empresária angolana no capital da empresa brasileira, que é dona da PT Portugal.

Num comunicado enviado ontem à CMVM, a Oi fez saber que considera “inaceitáveis” algumas das condições impostas por Isabel dos Santos para lançar a Oferta Pública de Aquisição (OPA) à PT SGPS. Com este negócio, a investidora angolana (parceira da Sonaecom na NOS) pretende uma “participação relevante”, mas “não de controlo”, na Oi (a PT SGPS ficará com 25,6% da PT/Oi). Perante a rejeição brasileira, Isabel dos Santos insistiu, reafirmando o potencial de “criação de valor” do negócio e assegurando que tudo fará para “o concretizar”. Incluindo, eventualmente, desistir ou alterar algumas exigências.

Fonte próxima da operação considerou haver aqui “uma demonstração de espírito positivo” de Isabel dos Santos, que visa “desarmar a capacidade que a Oi tem de condicionar a autonomia de decisão” da PT SGPS. “A operação foi lançada de forma transparente e no mercado” sobre uma empresa portuguesa que tem sido “esmagada” por uma empresa brasileira, que “nem esperou por uma tomada de posição” da PT SGPS, salientou ainda.

Se é verdade que a OPA visa a PT SGPS, as condições exigidas pela Terra Peregrin (sociedade da filha do presidente angolano) para avançar com a operação implicam o aval da Oi, pois incidem sobre os novos termos acordados para a fusão depois da crise do incumprimento da Rioforte. E por isso, depois de na segunda ter considerado “inoportunas” as condições de Isabel dos Santos, na terça, a Oi veio dizer que afinal são “inaceitáveis”.

A operadora revelou que o seu conselho de administração “decidiu, por unanimidade [numa reunião realizada na segunda-feira], rechaçar quaisquer propostas para alteração dos termos da operação”. No conselho de administração da Oi sentam-se Rafael Mora (da Ongoing que tem 10% da PT SGPS) e Shakhaf Wine (que integrava a PT Brasil). Fonte da PT SGPS garantiu ao PÚBLICO que “a unanimidade [referida no comunicado] é dos administradores da Oi entre os quais não se incluem os representantes da PT SGPS, uma vez que esta se encontra em processo de fusão com a Oi”.

Curiosamente, enquanto no Brasil a Oi se pronunciava sobre uma OPA à PT SGPS (que ainda não assumiu uma posição formal sobre o tema), do lado de cá do Atlântico, ocorriam reuniões sobre o futuro da PT Portugal. O PÚBLICO sabe que Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, accionista de referência da Oi, esteve em Lisboa. Diz-se que no hotel Ritz, para uma reunião. Quem também esteve no Ritz, para reuniões, foram representantes da Altice, os franceses que avançaram com uma oferta que avalia a PT Portugal em 7025 milhões de euros.

No comunicado de ontem, a Oi recusou especificamente “as condições elencadas nas alíneas vi, vii, viii e ix do item 14 do anúncio preliminar” da OPA. Horas mais tarde, Isabel dos Santos reafirmou o seu empenho em “reunir vontades” para uma solução que “permitirá a manutenção da unidade da Portugal Telecom, evitando o desmantelamento da empresa”. E disse estar “a ponderar prescindir” precisamente das condições rejeitadas pela Oi. No papel manter-se-iam, ainda assim, a exigência de alteração dos estatutos da PT SGPS para poder ter mais de 10% do capital e votos e a rejeição de propostas de compra de activos relevantes (como a PT Portugal ou a posição na Unitel).

“Isabel dos Santos está empenhada em que a OPA seja um êxito”, garantiu fonte ligada ao negócio, e por isso “fará evoluir a sua oferta em termos das condições, de maneira a que ela seja aceitável para os accionistas da PT SGPS”. Tudo está "a ser estudado", e um dos caminhos poderia passar eventualmente por tentar que “as cláusulas restritivas que tiram valor” aos accionistas da PT SGPS (como a imposição de só reforçar na Oi através  da opção de compra de 11,4% destinada a refazer a posição accionista de 37% que seria assumida na nova empresa se não tivesse havido a crise Rioforte) se mantivessem apenas para a Terra Peregrin e caíssem para outros accionistas, exemplificou.

A acontecer, isto permitiria, por exemplo, que os actuais accionistas da PT SGPS que são accionistas da Oi, ou futuros accionistas, viessem a reforçar a sua posição no capital e, eventualmente, a constituir acordos estratégicos.

Há um factor que a empresária ainda não disse se está disposta a alterar: o preço. As acções da PT SGPS fecharam ontem a subir quase 5% para 1,42 euros, acima dos 1,35 euros oferecidos (a oferta valoriza a holding em 1200 milhões). Para alguns accionistas, o preço poderá ser a verdadeira condição e há quem diga que “a OPA não é para ser levada a sério” quando a média da cotação nos últimos seis meses foi de 1,94 euros. É o caso de Francisco Gonçalves, da Comissão de Trabalhadores da PT, que ainda assim acrescenta que “o mais importante” é o projecto de Isabel dos Santos para a PT Portugal. “E sobre isso não sabemos nada”, finaliza.

 

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